Nos últimos três anos, com a emergência de novos movimentos de protesto no contexto da falência do sistema financeiro, da erosão do Estado-nação e da afirmação da soberania empresarial, assistimos a formas de protesto que fundem arte e criatividade para contornar as táticas policiais de controlo de multidões durante manifestações (como o kettling), e escapar às narrativas mediáticas que confinam a energia indómita do motim numa asseada história de saque e ganância. A busca de tais alternativas assume diferentes formas – de cultura de elite e de cultura popular, da cultura de museu à cultura de rua – como arte participativa, festas efémeras, reciclagem imaginativa, relações novas entre objetos, economias e o ambiente.
Na sua pintura das Pussy Riot, a artista berlinense Kerstin Drechsel capta o carácter queer deste nosso tempo de tumulto e revolta. O poderoso retrato da banda punk feminista (presa em 2012 pelo protesto na Catedral de Cristo Salvador em Moscovo, no qual se criticava o apoio da hierarquia da Igreja Ortodoxa à campanha presidencial de Putin) relembra-nos de quão frequentemente a anarquia assumiu a forma de uma rejeição punk feminina, mais do que a de um violento levantamento masculinista. O exemplo das Pussy Riot – o grupo, a pintura, a ação e as suas recriações em todo o mundo – aponta para o surgimento de formas estéticas nestas manifestações altamente mediatizadas de desgaste político e indignação. Poderemos identificar no seio da anarquia uma estética que rejeite a lógica do "capitalismo punk"? Qual a economia erótica de tal trabalho?
Jack Halberstam é Professor de Estudos Americanos e Etnicidade, Estudos de Género e Literatura Comparada na University of Southern California. Publicou Gothic Horror and the Technology of Monsters (1995); Female Masculinity (1998); In A Queer Time and Place (2005); The Queer Art of Failure (2011) e Gaga Feminism: Sex, Gender, and the End of Normal (2012). Uma das mais destacadas vozes da teoria queer, Halberstam prepara um novo livro, The Wild, sobre anarquia queer, performance e cultura de protesto.