Em 2011 tive a oportunidade de participar, em contexto pedagógico, na reinterpretação da peça Continuous Project – Altered Daily (1970) de Yvonne Rainer, a partir de arquivos disponíveis e testemunhos de artistas. Nesse momento, surgiram tensões de trabalho que viriam a materializar-se na peça em si: um processo de trabalho transformado em experiência estética que reivindicava o labor coreográfico enquanto produto artístico. Estava literalmente em causa a forma como um grupo de indivíduos interagia e negociava um conjunto de ações entre si, num processo que tanto era naturalizado quanto induzido coreograficamente. Neste projeto, continuado, damos seguimento a esta "ideia" de coreografia enquanto tecnologia que verifica, ativa e transforma relações entre indivíduos. Recorrendo a objetos da história da dança, aos seus contextos e ideologias, e à sua relação com música, procurámos rever e operar sobre a forma como a coreografia e a dança estabelecem padrões ideológicos que fixam ou colocam em questão os regimes éticos e estéticos dominantes.
João dos Santos Martins
João dos Santos Martins trabalha como coreógrafo e intérprete desde 2008. Criou Le Sacre du Printemps (2013) com Min Kyoung Lee e Masterpiece (2014). Colaborou em Tropa Fandanga (2014) do Teatro Praga e Retrospectiva por Xavier Le Roy. É intérprete em Monument 0 (Hunted by wars 1913-2013) de Eszter Salamon.