Colaborador, no passado, de luminárias como Freddie Hubbard, Joe Henderson, Gerry Mulligan, Stan Getz ou Tony Williams, Michael Formanek conquistou um lugar nos anais do jazz que lhe permitiria prosseguir uma carreira comemorativa dos seus feitos anteriores e das formas tornadas "históricas" sem que ninguém o pudesse recriminar por isso. Assim não o quis este notável contrabaixista e compositor, e o certo é que se manteve na linha da frente, acompanhando a evolução da música e até contribuindo decisivamente para a sua inovação, ao lado de figuras com semelhante visionarismo criativo como Craig Taborn, Ellery Eskelin, Marty Ehrlich e Mary Halvorson.
Cheating Heart é o novo investimento que Formanek está a conduzir com o propósito de continuar a tradição nos domínios da vanguarda ou de conectar esta com o património do jazz, consoante a perspetiva que queiramos adotar. Fá-lo explorando algo em que é um reconhecido especialista: a gestão de contrapontos especialmente dinâmicos. Para esse efeito, escolheu dois exímios saxofonistas para o grupo: o alto Tim Berne, com quem tem uma longa cumplicidade, e um tenor que começa a dar muito que falar, Brian Settles. Na secção rítmica estão com ele dois músicos com um sólido historial de realizações conjuntas e um gosto particular pelo detalhe e pela subtileza, o pianista Jacob Sacks e o baterista Dan Weiss.
Com quatro décadas de atividade, celebradas em 2013 com uma incursão pelo velho hard bop com o pianista Freddie Red, Michael Formanek é bem o exemplo do músico inconformista que procura ir sempre mais longe. E em contextos totalmente diferentes, dos intensos Bloodcount de Tim Berne à inclassificável parceria com a guitarra pedal steel de Susan Alcorn, passando pelo Ensemble Kolossus e o trabalho com a banda Thombscrew. Mais do que um sobrevivente, é um inventor de novos horizontes para o jazz.