Um de vários saxofonistas surgidos em cena nos últimos anos, João Mortágua depressa se destacou entre os mais completos e desafiantes. Além de ter uma voz própria, apresenta uma visão do jazz muito pessoal, como ficou revelado com o seu disco de estreia, Janela. Uma visão bem explicitada em composições que são elegantes sem serem pretensiosas e que proporcionam tanto a improvisação solística como uma dinâmica de grupo particularmente feliz. Patente fica que a música de Mortágua deve não só à sua criatividade e às suas capacidades técnicas como aos músicos que com ele estão associados, designadamente o guitarrista Miguel Moreira, o contrabaixista José Carlos Barbosa e o baterista José Marrucho. Todos eles são parte fundamental da fórmula proposta.
As situações rítmicas, melódicas e harmónicas que se vão sucedendo são frescas, irreverentes e, por vezes, até inesperadas. Resultam de uma mistura de referências e influências que não é comum estarem associadas, uma delas sendo a do grupo de rock progressivo Gentle Giant. O saxofone alto de Mortágua tem, inclusive, uma elasticidade de vocabulário surpreendente, sem nunca perder a identidade. Se umas vezes parece estarmos a ouvir Lee Konitz, noutras é John Zorn que nos vem à ideia. O que mais nos desarma é que, em se tratando de um grupo de jovens, a música é tão sólida e afirmativa que seria de esperar que fosse feita por artistas com outra maturidade.