Se são muitos os músicos que hoje abraçam o formato do be bop, não o entendendo como uma tendência do passado, o norte-americano, radicado em Amesterdão, John Dikeman e os noruegueses Jon Rune Strøm e Tollef Østvang pegam nas fórmulas introduzidas por lendas do free como Albert Ayler, Cecil Taylor, John Coltrane e Peter Brotzmann a fim de as trazerem até à atualidade. Com uma particularidade: regra geral, dispensam o uso de estruturas ou composições predefinidas, tocando um jazz determinado apenas pelo momento. Um jazz intenso, poderoso e prenhe de argumentos e implicações, dando espaço ao detalhe e à subtileza. O nome Universal Indians ilustra bem o propósito destes músicos: este já não é um jazz nativo da América, é uma música global, uma música do mundo que absorveu outros vocabulários.
A escolha, como convidado do projeto, de um pioneiro do free jazz norte-americano com um percurso predominantemente europeu (com, por exemplo, Daunik Lazro, Evan Parker, Raymond Boni, Mats Gustafsson, Martin Kuchen, Rodrigo Amado) surge, pois, com naturalidade. Joe McPhee é um símbolo da sobrevivência no tempo presente das premissas (estéticas, sociais, políticas) da new thing e demonstra-nos que a opção por um "modo de fazer" não tem de ser exclusivista nem dogmática. O saxofonista e trompetista esteve envolvido com a música eletroacústica de Pauline Oliveros, colaborou com a Nihilist Spasm Band em contexto de noise music, interpretou Led Zeppelin com as bandas The Thing e Cato Salsa Experience. Esta desenvoltura tem-lhe sido possível pela adoção das metodologias do Pensamento Lateral de Edward de Bono. Segundo este, a formulação de novas ideias só tem a ganhar com a relativização das já existentes.