Charles Gayle (n. 1939, Buffalo, EUA) é um icónico saxofonista e pianista reconhecido pelo seu expressionismo livre intenso e irreverente, revelado internacionalmente no dealbar dos anos 90 depois de décadas como uma figura marginal. Músico de uma assinatura tonal volumosa, próxima do tutelar Albert Ayler, emprega a distorção tímbrica como uma das dimensões basilares do seu trabalho. As suas improvisações caracterizam-se por melodias evocativas dos espirituais negros afro-americanos, velozes saltos intersectuais, berrantes multifonias, e uma densidade de fraseado evidenciadora do impressionante domínio da amplitude de registo do saxofone tenor. Gayle começou a tocar música aos 9 anos, e aparte algumas lições de piano, foi um autodidata. Lecionou um curso universitário de jazz em Buffalo e ao longo de '73 integrou o grupo do baterista Rashied Ali, após a mudança para Nova Iorque onde se imiscuiu na regimentada comunidade free jazz, mas uma bruma imensa paira sobre este período da sua vida. Admitiu em entrevistas ter-se tornado um sem-abrigo ao longo de cerca de 20 anos, escolhendo tocar na rua e no metro, disponível à generosidade dos transeuntes, justificando-se que a premissa inicial foi a de se querer recusar a tocar em salas minúsculas convencionais e angariar biscates para pagar a renda. Em 1988 grava um trio de álbuns para a editora sueca Silkheart, seguindo-se para a germânica FMP o clássico absoluto Touchin' on Trane, com William Parker e Rashied Ali, que o lança como personalidade incontornável no jazz contemporâneo, com edições subsequentes na Knitting Factory, Black Saint, Blast First, e na portuguesa Clean Feed já na década passada.
Filho Único