O projeto Inquieta Luz de Jorge Moniz coloca o jazz em relação a algo mais. Pode ser o funk ou a tradição popular portuguesa como algum experimentalismo electro e a música erudita, numa perspetiva de fusão que se vai metamorfoseando, já a muitas milhas de distância das características que a tendência a que se chamou fusion tinha na década de 1970. Com Luís Figueiredo nos teclados, Mário Delgado na guitarra, João Custódio no contrabaixo e as vozes de Joana Espadinha e Paulo Ribeiro em dois dos temas, o que encontramos no disco protagonizado pelo baterista e compositor é uma música que vai mudando, mas tem as características pessoais da escrita de Moniz e o cunho de cada um dos intervenientes.
Este «cruzamento de linguagens em que são colocados em evidência os diferentes universos dos músicos» reunidos, para usar palavras do próprio Jorge Moniz, reúne músicos da nova, e cada vez com mais provas dadas, fornada do jazz português. Tem igualmente a participação de um veterano que é por todos aceite como o mais importante guitarrista do jazz nacional. Delgado é mesmo um elemento chave deste jazz inquieto, com os seus acordes e os seus efeitos de pedaleira a furarem por dentro todas as situações. Só grandes instrumentistas podiam estar à sua altura. Aliás, é o primor das execuções a principal força deste empreendimento, ainda mais óbvio numa atuação ao vivo.