Nos anos de ouro tanto do rock progressivo como do jazz de fusão havia um só homem que fazia a ligação entre esses dois rios que corriam em paralelo: Keith Tippett tocava com os King Crimson, talvez a mais sofisticada banda de toda a história do rock 'n' roll, e tinha as suas próprias formações de orientação jazzística, a começar pela orquestra Centipede, que juntava músicos de jazz (por exemplo, Alan Skidmore, Gary Windo, Dudu Pokwana, Mongezi Feza e Paul Rutherford) e de rock (como o próprio Robert Fripp e membros dos Soft Machine, dos Nucleus e dos Blossom Toes) numa grande orgia de som.
Hoje, há três a fazê-lo, desenvolvendo mais profundamente as premissas daquelas duas tendências e cruzando-as para obter novos resultados: Ståle Storløkken, Nikolai Eilertsen e Torstein Lofthus. Juntos, conduzem o projeto Elephant9, híbrido de Soft Machine, Emerson Lake and Palmer, King Crimson e Deep Purple com o Miles Davis da fase Bitches Brew, os Weather Report, os Return to Forever e a Mahavishnu Orchestra, alcançando ainda os seus tentáculos o psicadelismo de finais da década de 1960, o cosmic rock alemão dos 70 e o death metal nórdico de anos mais recentes. Neste caldo de referências, a recente colaboração do trio norueguês com o guitarrista sueco Reine Fiske introduziu outros elementos neste caldo de ADN: a energia da Band of Gypsys de Jimi Hendrix, o caleidoscopismo dos Pink Floyd e o sentido de deriva de Terje Rypdal.
No centro deste processo de recuperação com o fito de ir ainda mais longe (ou seja, movido por uma intencionalidade que nada tem a ver com nostalgia) estão os três instrumentos vintage tocados por Storløkken: o órgão Hammond B-3, o piano elétrico Fender Rhodes e o sintetizador MiniMoog. Foram estes teclados, mais do que qualquer outro instrumentário, que construíram a sonoridade do prog e do jazz-rock e são eles as principais ferramentas que permitem esta presente tentativa de voltar a unir duas vias que nasceram separadamente, mas que por si só já tinham muitos aspetos comuns que permitiam tais convergências. Pois aí estão elas, tornando estes Elephant9 num caso muito sério da música dos nossos dias.