Não há intérprete mais unanimemente considerado no fado atual do que Camané. Ele continua a afirmar-se como uma voz única na arte de cantar o fado, como um dos fadistas mais aclamados e mais admirados em Portugal e no estrangeiro.
Este concerto tem como base o seu último álbum, Infinito Presente, recebido com entusiasmo pelo público e pela crítica. E que Camané apresenta com a mesma humildade de há 20 anos, quando gravou Uma Noite de Fados.
Numa voz que vai à frente a largar as palavras, a deixá-las pousar no sítio certo, procura, através da repetição, os momentos únicos, aqueles em que o fado acontece, com uma preocupação extrema com as nuances da interpretação. Camané respira autenticidade e facilmente se transcende: saem-lhe lágrimas da garganta quando fala de tristeza e desenha-se uma nuvem de rancor quando fala de ciúme.
O trabalho com José Mário Branco, produtor desde o primeiro álbum que o fadista gravou em idade adulta, parte exatamente da busca de uma certa pureza. José Mário Branco defende uma simplicidade nos adornos, para que não se perca a essência do fado que, segundo o seu conceito, é a voz e a palavra.
A voz de Camané, tão singular quanto extraordinária, imediatamente reconhecível e inconfundível, e também, ou sobretudo, a sua capacidade de transmitir verdade a cada palavra que lhe sai da boca, e de a cantar com expressividade contida, explicará o reconhecimento e o lugar conquistado por Camané. Ele sabe dar uma dimensão maior que a imaginada às palavras que interpreta.
Emoção. Tradição enriquecida com a dose certa de risco. Versatilidade. Tudo isto faz parte da personalidade artística de Camané. E tudo isto se conjuga num espetáculo que celebra Infinito Presente: "A passagem do tempo, o tempo que é memória, o tempo em que vivemos", como ele diz.