O seu nome acrescentou-se de forma natural ao conjunto de mulheres saxofonistas surgidas nos últimos anos na área do jazz, com destaque para Lotte Anker, Ingrid Laubrock, Christine Sehnaoui, Jessica Lurie e Maguelone Vidal. Dinamarquesa de origem, mas residente em Trondheim, na Noruega, Mette Rasmussen desmente todos aqueles que identificam o expressionismo da improvisação como algo de especificamente masculino. Na linha da "estética do grito" de Albert Ayler, mas entrando pelos domínios da música que troca o fraseado pela textura, Rasmussen tem como principal propósito explorar os limites físicos do saxofone alto, com ou sem preparações, e fazê-lo aproveitando a crueza natural do seu instrumento.
O seu grupo com Sam Andreae e David Meier, Trio Riot, surpreendeu pela forma como colou uma atitude punk ao jazz, incluindo os típicos riffs dessa área do rock, e muito aplaudidos têm sido os seus duos com Chris Corsano, Stale Liavik Solberg, Dennis Tyfus e o histórico Alan Silva, este não como contrabaixista, mas em sintetizador. O som de Mette é rouco mas extremamente fluido, fazendo um uso surpreendente das notas mais agudas, que utiliza com a frieza de uma faca, bem como dos mais inacreditáveis multifónicos. Umas vezes pode parecer free jazz, mas em outras entra em território da mais despojada noise music.
No seu percurso teve já ocasião de tocar, para além dos mencionados, com músicos como Alan Wilkinson, Pat Thomas, Rudi Mahall, Tobias Delius, Wilbert De Joode e Axel Dorner. Falta ouvi-la na companhia de Mats Gustafsson, com quem é, mais mal do que bem, habitualmente comparada. Agora vamos tê-la a solo, formato que permite ouvir, sem distrações, tudo o que vem trazendo para a cena, e que é muito seu.