Sob um céu estranho os corpos vão ocupando um lugar e gerando a sua rotina e as suas ligações. Os movimentos dos corpos, juntamente com o dispositivo cénico, criam o lugar teatral, um lugar subjetivo, em mudança, um lugar que é feito de memória. É essa memória que persiste depois da catástrofe; as coisas mudaram e ficou apenas uma memória alastrada. Neste lugar, os corpos realizam dois ciclos em quase repetição, repetem para resistir ao final que se imagina e para que algo perdure. O apagamento final é o alastrar de uma catástrofe. É sob este estado que este lugar teatral é zona de perigo e espaço de abandono. Simultaneamente previsível e imprevisível, o lastro é também o peso que afunda os corpos e, neste caso, que os assombra. O céu pode cair e seria a última coisa que poderíamos prever. Como num sem-saída, não se progride, a coreografia é uma marcha num continuum infinito, não levará a lado algum.
Né Barros
Né Barros, coreógrafa e bailarina, investigadora no Instituto de Filosofia no Grupo de Estética, Política e Artes (UP), é Doutora em Dança pela Universidade Técnica de Lisboa (FMH) e Mestre em Dance Studies pelo Laban Centre, Londres. Iniciou os estudos de dança em Portugal e estudou dança contemporânea e composição coreográfica no Smith College (EUA). Tem apresentado o seu trabalho desde a década de 1990 com o Balleteatro, de que é cofundadora e membro da direção, com a Companhia Nacional de Bailado, o Ballet Gulbenkian e a Aura Dance Company (Lituânia). Tem o curso de teatro da ESAP e fez cinema e teatro. Tem colaborado com artistas plásticos, fotógrafos, músicos, encenadores e artistas multimédia.