Não te esqueças de viver é o título da última obra (2008) de Pierre Hadot. O seu subtítulo – Goethe e a tradição dos exercícios espirituais – servirá de guia a estas quatro conferências. Cada uma delas pretende ser o desenvolvimento de alguns exercícios espirituais, inscrevendo-se na tradição referida por Hadot, mas também acrescentando variantes ou mesmo novos exercícios.
No seu ensaio Da Fisionomia, Montaigne comenta a frase de Cícero: a vida inteira dos filósofos é um estudo da morte, nestes termos: «Mas sou da opinião de que [a morte] é o fim, mas não a finalidade da vida; é o seu fim, a sua extremidade, não porém o seu objecto. A vida deve ser para si mesma o seu objectivo, o seu desígnio [...]».
Aqui, estamos na última página do texto "Mors certa hora incerta", capítulo da derradeira obra de Fernando Gil, Acentos (2005), na qual, contrariando as evidências da racionalidade moderna, a contingência da vida humana com o seu cortejo de incertezas, a vida irrepetível, é celebrada pela atenção a formas decisivas do agir humano, como sejam, crer e confiar, traçando o movimento que vai de se perceber agarrado à vida até à aceitação da vida, que inclui a experiência da saudade daquilo que é perecível, na qual culmina a aceitação.
Esse movimento é uma forma de heroísmo que surpreendemos nos autores que nos vão ocupar, Fernando Gil e Pierre Hadot / Goethe, a que se associam Alain, Nietzsche, Wittgenstein, Emerson, Montaigne. Sá de Miranda, Joaquim Manuel Magalhães e Agustina providenciam as fontes poéticas.
Maria Filomena Molder é professora catedrática aposentada, FCSH, UNL. Últimas publicações: Símbolo, Analogia e Afinidade, Vendaval, 2009. O Químico e o Alquimista. Benjamin, Leitor de Baudelaire, Relógio d'Água, 2011 – Prémio Pen-Club 2012 para Ensaio. As Nuvens e o Vaso Sagrado, Relógio d'Água, 2014.
"Ó cousas tão vãs, tão mudaves, / Qual é tal coração qu'em vós confia?"
15 de fevereiro
"Primeiro: continuar. Segundo: começar".
22 de fevereiro
"Caminha melhor quem menos coisas transporta"
29 de fevereiro
"Não te esqueças de viver!"