Quando, em 2012, lançou Guitar Soli for the Moa and the Frog, pela Shhpuma, já se intuía que Filipe Felizardo caminhava para uma voz única num panorama internacional repleto de guitarristas mais ou menos atreitos à revisitação das raízes e fundações dos blues e do que se convencionou chamar "american primitivism". Quatro anos depois, interpretamos já esse disco como 1.º volume de uma série de lançamentos (que culminou no passado novembro, com a edição de Volume IV – The Invading past and other dissolutions, segunda pela franco-suiça Three:Four Records) que instituíram, definitivamente e sem margem para quaisquer dúvidas, a música deste lisboeta como profundamente idiossincrática, inconfundível, e, sobretudo, bela – como só a conjunção de um lirismo intensamente pessoal, a fusão de uma guitarra e seu tocador, e o papel de um amplificador cujo som parece só existir nas mãos de Felizardo, pode ser.
A kind of Zo, estreia do duo de Paulo Mesquita e Pedro Oliveira na Shhpuma (2015), é um feliz encontro de proveniências díspares, em que o piano e a formação clássica do primeiro e o background do segundo enquanto baterista dos rockeiros Peixe:Avião geram um objeto que traz à memória os mais marcantes discos dos norte-americanos Rachel's, fundadores de um género até hoje quase sem seguidores, e que poderíamos designar por chamber post-rock. Há nos Ozo, no entanto, qualquer coisa mais que essa capacidade de criar quase-canções de narrativa e harmonia irrepreensíveis, qualquer coisa que obedece a uma vontade muito particular de não deixar portas por abrir nem em seguir até ao fim o caminho que parece desbravado, qualquer coisa que, pela sua evidente paixão pela expressividade eletroacústica, os leva para recantos e desvios que tornam o seu experimentalismo numa experiência.