A música do trio Timespine (Adriana Sá, John Klima e Tó Trips), toda ela criada a partir de cordas (zither guitarra-‑baixo e dobro, respetivamente) parece conter em si todas as músicas originárias do mundo que se sustentam neste tipo de instrumentos. No seu disco de estreia, prestes a ser atualizado por um aguardado segundo lançamento, confluem pistas que remetem para a tradição hindustani, para a corá oeste-africana, para o koto japonês e, claro, para a tradição de seis cordas do sul norte-americano. Uma música de simplicidade desarmante, de entrega total a uma procura pela beleza improvisada a partir de notações gráficas, e de possessão tranquila de um segredo íntimo e de um entendimento quase místico da música enquanto tradução do próprio solo e matéria do mundo.
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De Norberto Lobo já tudo se escreveu; guitarrista prodigioso e verdadeiro milagre surgido nas fileiras da grande vaga de música exploratória lisboeta na primeira década do milénio, voz única e verdadeiro património da música mundial (sem qualquer tipo de exagero), autor e instrumentista de talento raro e abençoado. Tudo se escreveu, então, mas a cada disco, a cada concerto, se suspeita que nem tudo se ouviu: a voz continua a murmurar histórias e a tocar sentimentos que não sabemos acessíveis sem esta mediação, a guitarra continua a transfigurar-se em instrumento desconhecido, em melodias e sons que não sabemos acessíveis a não ser pela mão de Norberto Lobo; as narrativas continuam a parecer conhecidas até que percebemos que nunca as seguimos exatamente assim, e o caminho do músico lisboeta cresce e cresce rumo ao infinito. Um concerto de onde nunca saímos iguais.