Um/I é o nome do álbum de estreia (2013) deste trio de pop inclassificável que é, também ele, uma espécie de super grupo da cena indie nacional (com Bráulio Amado, dos Adorno, na voz e baixo, Óscar Silva, o senhor Jibóia, na
guitarra, e Ricardo Martins, ex-Lobster, na bateria). Nele, testemunhamos canções hiperativas – se é que tal designação possa ser utilizada – mas paradoxalmente curtas e incisivas, habitadas por uma estranheza que deriva de uma clara intenção de aproximar as latitudes pós-punk da banda com um certo ideal de tropicalismo que se pressente não tanto nos ritmos como em especificidades e cromatismos saídos das guitarras, com amplo recurso a efeitos e dobragens tonais.
Trazem na bagagem o segundo lançamento, de 2015, apropriadamente intitulado Dois/II, para esta edição do Rescaldo.
Poderíamos referir-nos a este encontro como uma "colaboração improvável"; afinal, e pese embora o estatuto galopante dos barcelenses Black Bombaim no circuito europeu e mundial da música mais psicadélica e verdadeiramente espacial do rock instrumental, a verdade é que Peter Brötzmann, soprador violentíssimo e decano do jazz mais explosivo que o mundo já conheceu, é figura maior em qualquer palco que pise, seja com que companhia for. Improvável é, de certa forma, ver o mestre alemão com estes três rapazes de talento incrível. Uma análise mais cuidada ao percurso dos Black Bombaim, no entanto, mostra-nos que a sua música tem vindo, desde a sua génese, a abrir-se a todo o tipo de colaborações e a convidados tão ilustres como Adolfo Luxúria Canibal, Noel V. Harmonson, Isaiah Mitchell ou, de forma mais relevante, os saxofones do recém-desaparecido Steve Mackay e do luso Rodrigo Amado, cada vez mais figura de proa do free jazz internacional.
Este encontro talvez não tão improvável, como nos pareceria numa primeira abordagem, promete ser um passo mais neste percurso do trio luso, é uma ocasião mais para que, lado a lado com um titã da música – de qualquer música – a nível mundial, se supere e se volte a superar rumo às estrelas que a sua música sempre parece querer alcançar.