Foi em Los Angeles, onde se radicou em 1966, que Guy de Cointet (1934, Paris – 1983, Los Angeles) produziu uma obra notável, cuja relevância no campo das artes visuais é hoje consensualmente reconhecida. No contexto da exposição retrospetiva na Culturgest, são apresentadas várias das suas peças teatrais, para as quais escreveu os textos e produziu os objetos cénicos. Nelas se manifesta, em todo o seu esplendor, um fascínio pela linguagem e pelos seus usos em contextos tão diferentes como a literatura (Raymond Roussel é uma referência assumida), a televisão e a rádio, ou as conversas quotidianas – um fascínio que também cultivou na sua prolífica e belíssima produção de desenho. Guy de Cointet explorou recorrentemente procedimentos de codificação e abstração da linguagem a partir do cruzamento entre texto, forma e cor. Nas suas peças teatrais, o artista desenvolveu um estilo muito próprio, pleno de artifício e de humor, construindo narrativas em que o familiar, o absurdo e o enigmático se entrelaçam.
Este programa inicia-se com algumas das suas primeiras peças teatrais (monólogos para uma atriz) e irá prolongar-se até meados de maio.
Sábado 5 de março · 18h30 Pequeno Auditório
Two Drawings (1974)
Dois desenhos
Duração: 20 minutos · Em inglês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Mary-Ann Duganne Glicksman
Deambulando numa loja da zona ocidental de Los Angeles, uma mulher jovem é atraída por um desenho com uma forma curiosa. «Bastante simples e bonito», diz para si própria, e compra-o. Mas em casa, olhando-o com cuidado, tem que admitir que aquela modesta obra é estranha. Muito estranha, mesmo. Tão estranha como outro desenho…
A peça é um relato pormenorizado das reações desta jovem mulher perante estes dois desenhos.
My Father's Diary (1975)
O diário do meu pai
Duração: 15 minutos · Em inglês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Sarah Vermande
No leito de morte um homem oferece à filha um livro, um precioso livro, cheio de textos, sinais, diagramas, desenhos. «Este é o meu diário…» começa por dizer. Já demasiado fraco para continuar, fecha os olhos… para sempre. Nesse momento a guerra rebenta, arrastando no seu turbilhão a rapariga e o diário. Recordando para o público estes trágicos acontecimentos, apresenta o enorme livro e tenta explicá-lo página por página.
Sábado 5 de março · 20h Pequeno Auditório
Going to the Market (1975)
Ir ao Mercado
Duração: 15 minutos · Em inglês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Mary-Ann Duganne Glicksman
Uma pintura, com uma forma geométrica invulgar, uma moldura colorida e um fundo branco coberto de letras pretas dispostas ao acaso. Ao acaso? Decididamente, não… A atriz, em poucos minutos, irá deslindar toda a história contida nesta obra.
At Sunrise A Cry Was Heard or The Halved Painting (1974)
Ouviu-se um grito ao nascer do sol ou A pintura dividida ao meio
Duração: 20 minutos · Em inglês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Violeta Sanchez
Maio de 1978. É primavera em Moscovo. Num apartamento que dá para a magnífica capital russa, na parede da sala, está pendurada uma grande pintura vermelha. A pintura – por causa da sua abstração, antiguidade e incontestável beleza – é motivo constante de discussão e controvérsia. A peça tenta encontrar entre as muitas interpretações diferentes, a que conduza à ideia original.
Domingo 6 de março · 16h e 17h Galeria 1 (sala 2)
La très brillante artiste Huzo Lumnst, présente son nouveau travail: CIZEGHOH TUR NDJMB (1973)
A brilhantíssima artista Huzo Lumnst apresenta o seu novo trabalho: CIZEGHOH TUR NDJMB
Duração: 10 minutos
Sessão das 16h: em inglês, sem legendas
Sessão das 17h: em francês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Sarah Vermande
Inventar o trabalho de um personagem inventado. Um personagem de um romance, por exemplo. Inventar um artista. Inventar vários artistas com relações próximas entre eles. O trabalho inventado de um artista inventado. «A brilhantíssima artista Huzo Lumnst apresenta o seu novo trabalho…»
Sábado 19 de março · 21h30 Pequeno Auditório
Comme il est Blond! (ou De Toutes les Couleurs) (2013)
Como ele é loiro! (ou De todas as cores)
Adaptação de Yves Lefebvre a partir de De Toutes les Couleurs de Guy de Cointet (1982)
Duração: 40 minutos · Em francês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Pauline Haudepin, Paul de Launay e Sarah Vermande
O cenário, os adereços, provocam, do princípio ao fim, incidentes que por sua vez arrastam mudanças súbitas de situação. Qualquer dos elementos do cenário pode provocar reações em cascata que modificam a atitude dos personagens, perturbam a sua maneira de pensar e agir. Nesta adaptação, o texto original é encurtado, o número de atores reduzido, as réplicas redistribuídas.
Domingo 20 de março · 16h e 17h Galeria 1 (sala 4)
I Like Your Shirt (1980)
Gosto da tua camisa
Recriado em 2013 · Duração: 20 minutos · Em inglês, sem legendas
Encenação: Yves Lefebvre · Interpretação: Pauline Haudepin e Hadrien Peters
Um diálogo entre uma rapariga de Hong Kong e um francês. Uma língua desconhecida num livro de capa preta, palavras lançadas sob a forma de cubos, a misteriosa tipografia de um retrato fotográfico e toda a espécie de outras linguagens e signos reúnem-se numa multifacetada conversa que culmina num sonho poético e colorido.
Direção artística para a Guy de Cointet Society: Hugues de Cointet
Programa organizado com a colaboração da Guy de Cointet Society / Air de Paris, Paris, e do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid.