Conseguem imaginar os sons de uma colmeia construída pelas abelhas dentro de um recipiente de lata? Pois é um pouco isso que parece a música do quarteto Circadia. Ouvimos o tipo de estrutura de aparente não desenvolvimento da chamada drone music (pensem no minimalismo norte-americano da década de 1960, e pensem também na maior parte da atual música por computador), e no entanto há uma profusão de eventos sonoros que partem em todas as direções, como nas composições de Morton Feldman. O que quer dizer que, se os quatro membros do grupo, David Stackenäs, Kim Myhr, Joe Williamson e Tony Buck, têm atividade no jazz criativo e na música livremente improvisada, o que fazem em conjunto não se assemelha com absolutamente nada que possamos encontrar nessas áreas. Nem em quaisquer outras, de resto…
As duas guitarras de caixa, o contrabaixo e a bateria praticam uma música de características únicas que só podemos situar no domínio do experimentalismo, apesar dos seus claros vínculos com a escrita erudita contemporânea (sim, além de Feldman há por aqui algum Ligeti e algum Scelsi), mas o que nos entra pelas orelhas tem insuspeitas conexões com a folk do hemisfério Norte. Aqui e ali, são até os blues rurais que detetamos. Ou seja, numa altura em que achávamos que nada de novo se podia fazer com uma formação acústica, para mais com o envolvimento do mais popular dos instrumentos, a guitarra, eis que a surpresa se instala. Há mais caminhos a desbravar, e os Circadia estão a fazê-lo com uma candura e uma inventividade que já não imaginávamos possível.