Muitos sociólogos contemporâneos argumentam que a era da secularização chegou ao fim, que «Deus está de volta» e que vivemos atualmente num tempo pós-secular. Todavia, colocam-se várias questões fundamentais, todas elas críticas para esse debate: será a sociedade pluralista e global pós-moderna verdadeiramente pós-secular? Que tipo de religião regressou? Que espécie de Deus «está de volta»? O retorno contemporâneo à religião é sinal de um emergente novo tempo de Cristianismo? Porventura devemos esperar outro Deus?
No nosso tempo estão a ocorrer modalidades diferenciadas de regresso à religião. Primeiro, constata-se o seu papel crescente na política. Depois, verifica-se uma «viragem religiosa» da filosofia pós-moderna e um novo conceito de Deus na teologia pós-moderna. Por fim, tem-se comprovado um interesse crescente pela espiritualidade. Estes fenómenos são ambivalentes, implicando desafios e riscos.
Uma das principais distinções sociais no Ocidente atual não é a divisão entre crentes e não-crentes, mas a divisão entre os crentes estabilizados (os tradicionais paroquianos) e os buscadores, considera o sociólogo norte-americano Robert Wuthnow. No Ocidente, por exemplo, vem diminuindo o número de pessoas que participa em celebrações religiosas, ao passo que o número de «buscadores» tem vindo a aumentar rapidamente.
Uma das caraterísticas predominantes do futuro do Cristianismo será, com toda a probabilidade, o acompanhamento destes «buscadores», percorrendo parte do seu itinerário em diálogo com eles. O objetivo principal desse acompanhamento não é empurrar os «buscadores» para dentro de estruturas da Igreja já existentes, mas enriquecer e abrir as fronteiras institucionais e intelectuais existentes através do diálogo mútuo.
Tomáš Halík nasceu em Praga, em 1948. Ordenado sacerdote na Alemanha de Leste, trabalhou na "Igreja do Silêncio". Atualmente ensina sociologia e filosofia da religião. Com uma vasta bibliografia, foi professor convidado das Universidades de Oxford, Cambridge e Harvard. Leciona e dá conferências por todo o mundo.