Com uma década de existência, dois discos editados e outro em fase de produção, o Gonçalo Marques Trio tem uma das personalidades musicais mais distintivas da cena jazz nacional, e isso apesar dos diferentes convidados especiais que foi juntando ao núcleo constituído pelo líder trompetista com Demian Cabaud no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria. Foram eles no passado Bill McHenry, José Pedro Coelho e André Santos e é agora Jacob Sacks, figura de destaque em vários circuitos jazzísticos de Nova Iorque, do mainstream à vanguarda. O projeto é facilmente reconhecível pela sua utilização de espaços e texturas abertos, com um pendor melancólico, contemplativo e de contenção que dá clara preferência aos tempos lentos e médios, concedendo ao projeto uma dimensão poética muito particular. Essas características definem tanto as composições originais de Marques como as versões do cancioneiro norte-americano interpretadas "à maneira" do grupo.
O que é como dizer que os temas e os arranjos optam sempre pela simplicidade e o despojamento formal, num geral ambiente de quietude, se bem que haja uma matemática construtiva de evidente rigor. É à improvisação que se deixa o outro lado das abordagens, designadamente o da espontaneidade, da intuição e da interação entre os instrumentistas. A inclusão de Sacks nestes parâmetros surge de forma natural, dada a versatilidade do pianista e a facilidade com que propõe "cores" que não só se integram imediatamente no espírito do grupo como potenciam ainda mais a interação já existente.