Andrea dos Guimarães nasceu em Minas Gerais, radicou-se em São Paulo, começou a estudar piano clássico muito nova, com a sua mãe. O seu pai foi a sua primeira inspiração no canto. Bacharel em Música Popular e Mestre em Música pela Universidade Estadual de Campinas, é professora universitária.
Há 14 anos que integra o trio Conversa Ribeira, que se dedica à música caipira (a do centro-sul do Brasil, principalmente do interior dos estados de São Paulo e Minas), e de 2007 a 2013 fez parte do Garimpo Quarteto, banda de música improvisada.
Decidiu gravar um disco a solo, porque tinha vontade antiga de cantar acompanhando-se ao piano. Financiou-se através de crowdfunding, e gravou em estúdio o álbum Desvelo, lançado no Brasil em 2015. Também esteve em Portugal e Espanha numa discreta e curta digressão de lançamento do disco que, em Lisboa, a levou ao Hot Club e ao café bar Duetos da Sé. O concerto desta noite também se constrói em torno do Desvelo.
Andrea interpreta, com voz suave e arranjos delicados, canções muito conhecidas – Começar de Novo, Retrato em branco e preto, Acalanto ou Ela desatinou – de compositores e letristas como Ivan Lins, Tom Jobim, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, mas também músicas suas ou mesmo uma de Björk.
Interpretações de uma aparente simplicidade, mas muito sofisticadas, de uma grande sensibilidade, que nos fazem ouvir com outros ouvidos temas que sabemos de cor.
São Paulo-based university teacher Andrea dos Guimarães learned classical piano from her mother and singing from her father. After playing Brazilian country music for 14 years with the trio Conversa Ribeira and improvised music with the Guarimpo Quartet, she turned solo because she wanted to sing and play piano. Her album Desvelo, released in 2015, forms the basis of tonight's concert. With her soft voice and delicate arrangements, Andrea gives us apparently simple, but highly sophisticated and sensitive interpretations of songs by famous singer-songwriters, and also performs her own music.
Andrea dos Guimarães nasceu em Tupaciguara, no Estado de Minas Gerais e está radicada em São Paulo desde 1977.
Começou a estudar piano clássico em pequena com a sua mãe Vera Lúcia, professora de piano, que em casa ensinava muitas crianças. O pai, Alcino Nunes, foi a primeira inspiração de Andrea no canto.
É Bacharel em Música Popular, Mestre em Música pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora de música, no Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos, na Escola de Música do Estado de São Paulo Tom Jobim e na Universidade Federal de São Carlos.
Entre 2007 e 2013 fez parte do Garimpo Quarteto, banda de música improvisada, e integra o Trio Conversa Ribeira que se dedica à música caipira, a do centro-sul do Brasil, principalmente do interior do Estados de São Paulo e Minas Gerais. Piano clássico, música improvisada, música tradicional, ensino e investigação musicais, tudo isto concorre para moldar a personalidade artística de Andrea. "Amadureci meu canto no Conversa Ribeira, experimentei minhas primeiras composições no Garimpo Quarteto e tornei-me uma observadora bem mais consciente quando virei professora" (in Gazeta de Alagoas).
Em 2015, em São Paulo, lança o seu primeiro e, até agora, único disco que gravou sozinha, Desvelo, que está na base do concerto desta noite.
"Foi a maneira que encontrei de me mostrar como artista a solo. Sempre trabalhei com grupos e essa vontade de cantar e me acompanhar apenas ao piano terminou prevalecendo. Ao integrar o canto e o instrumento consigo expressar melhor o que quero dizer".
Desvelo é um trabalho que levou tempo a concretizar-se. Desde 1998 que foi sendo construído, arranjo a arranjo. O que bem se compreende, porque Andrea dos Guimarães escolheu um caminho difícil: mantendo uma grande coesão e consistência, dar nova vida a canções muito conhecidas da música popular brasileira (de Ivan Lins, Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nacimento, Dorival Caymmi), entrelaçando-as com canções mais antigas ou menos conhecidas (de Luís António, Tião Carreiro, Luiz Gonzaga), composições dela própria em vocalizes e mesmo uma de Björk.
"Fazer um disco sozinha é um desafio gigantesco. Não há opiniões para dividir, ponderar. Tudo depende única e exclusivamente de você e exige muita dedicação. Sem dúvida a experiência foi muito intensa", disse à Gazeta de Alagoas.
"Desvelo também significa 'tirar o véu', revelar cada música à minha maneira, sem analisar seus valores, sem julgamentos, apenas uma forma cuidadosa de encará-las. O disco foi produzido através do sistema crowdfunding (financiamento coletivo) do site Catarse e anda na contramão dos tempos atuais. Não há correria, nem alegrias superficiais. É um convite para acessar o interior de cada uma, despertar uma expressividade que sempre senti nessas letras".
Gravou o disco em estúdio tocando e cantando ao mesmo tempo (muitas vezes nas gravações separa-se a parte instrumental da parte cantada que, depois de trabalhadas, são juntas, o que permite um resultado mais controlado). Cada música tem uma história para estar ali. Um exemplo, dado pela artista: "Retrato em branco e preto é um arranjo que iniciei em 1998, durante uma aula de piano. Toda a melodia que canto está dividida ritmicamente sobre o piano, não me possibilitando muita liberdade para interpretar e provocando, portanto, uma relação mais intensa com a canção". Noutra ocasião acrescentou: "Se resolvo improvisar, posso derrubar o que estou executando em questão de segundos".
À Gazeta de Alagoas contou ainda, sobre as suas próprias composições: "Sempre arranjei muito e compus pouco. O curioso é que, apesar de eu ser cantora, as primeiras ideias que surgem são sempre para a melodia e a harmonia, raramente vem uma letra junto. Ou seja, grande parte das minhas músicas são instrumentais, por isso as faço com vocalizes".
Ainda à mesma publicação: " Comecei a escrever arranjos para eu tocar e cantar em 1998. Acho essencial para o músico a ampliação de suas referências estéticas, através da curiosidade, da pesquisa e de uma escuta atenta e cuidadosa. Todas essas que gravei fazem parte desta minha eterna busca para conhecer as muitas possibilidades sonoras que a música nos proporciona".
Como citamos acima, ela preveniu: está em contramão com o nosso tempo.
A música que faz é de um grande despojamento, de uma aparente simplicidade, sem cedência ao que poderiam ser efeitos fáceis ou dramáticos, sem acentuar as características mais frequentes que a interpretação das canções escolhidas costuma atrair, mas que, escutada com abertura, de coração limpo, nos revela novos sons ou conjugações de sons, uma ligação ao mesmo tempo simples e complexa entre a voz e o piano.
Não se espere que o que canta seja parecido com o que conhecemos. É bem possível que haja alguma reação de estranheza, porque estamos habituados a ouvir algumas das canções interpretadas de uma forma bem diferente. À medida que nos deixarmos ir pelo seu canto, pelo seu piano, vamos descobrindo quão bonito e quão original é o que nos oferece.
Coincidindo com o consumar do trabalho que deu origem ao disco, Andrea cortou rente os seus cabelos. Era um desejo antigo, mas até aí não tinha tido a coragem. "Já queria isso há muito tempo. A correria possibilitou uma grande mudança de energia, um movimento. Acho que também coincidiu com um período onde estava exercitando um pouco o desapego" (Gazeta de Alagoas). Esse cortar o cabelo, julgamos, pode ser tomado como metáfora da sua música: tirar o acessório, ir direito ao essencial, despojar, mostrar o que quer dizer sem enfeites.
Aquiles Reis, membro do quarteto MPB4 (banda fundada no anos 1960, quando eram todos jovens, durante muito tempo ligada a Chico Buarque) escreveu que "a música de Andrea dos Guimarães é como uma canção soando dentro de outra… tão profunda, tão à flor da pele, tão simples, tão bela". E escreveu bem.