Notas a desenvolver no lançamento de Rebuçados venezianos:
1. Como alguns dos meus outros livros, Rebuçados venezianos reúne textos dispersos.
2. Quanto ao género de textos, ele prolonga Matérias sensíveis de 1999, que se ocupava de arte e de artistas.
3. Nunca se poderá justificar por que é que alguém escreve sobre isto e aquilo desta e daquela maneira. Sei apenas que desde que li o que Mandelstam escreveu sobre os impressionistas passei a seguir uma disciplina que me era adversa. Eis as suas estações: começa-se por uma experiência de choque sem amortecimento, os olhos têm, por assim dizer, de mergulhar em água gelada. Segue-se um exercício de paciência e limpeza que tende a chegar àquele ponto em que a obra não se parece com coisa nenhuma, ascese que não impede momentos de plenitude. Claro, que nunca consegui seguir a disciplina à risca, pois a indisciplina é um dos meus temperos favoritos.
4. Duas Luísas – para sermos exactos, uma Luísa e uma Louise – reinam neste livro. Da primeira, Luísa Correia Pereira, procede o seu título, por sua vez, o título de uma pequena tela de 1991, escolhida para capa. Da segunda, Louise Bourgeois, recebi o ímpeto para averiguar o que distinguia a filosofia da arte, tudo isso convertido em matéria de sobrevivência, e fazer a boa pergunta: "O que é que a Louise Bourgeois sabe, que eu não sei?". É evidente que o reinado destes nomes conhece boa vizinhança, sem hierarquia nem domínio, com todos os outros nomes.
Maria Filomena Molder (redigido em conformidade com a norma anterior ao Acordo Ortográfico de 1990)
Maria Filomena Molder é Professora Catedrática de Filosofia, FCSH, UNL. Últimas publicações: Símbolo, Analogia e Afinidade, Vendaval, 2009. O Químico e o Alquimista. Benjamin, Leitor de Baudelaire, Relógio d'Água, 2011 – Prémio Pen-Club 2012 para Ensaio. As Nuvens e o Vaso Sagrado, Relógio d'Água, 2014.