Fado: um lugar marcado, onde sei que me encontro
Foi na Culturgest, nesta sala em meia-lua, onde dei o primeiro concerto da minha vida, onde o meu fado se tornou conhecido, e reconhecido, para o grande público, que acompanha o meu trabalho desde então. Este palco tem a medida certa para o meu fado, é um lugar onde é possível revelar-se genuinamente. Desta vez vou estrear dois fados (inéditos) escritos de propósito para este concerto – Fado: a Música e as Palavras – por dois poetas de quem já gravei discos inteiros: João Monge, Crua; Maria do Rosário Pedreira, Romance(s). Arriscar é um verbo que aplico neste palco; falo do processo criativo, porque aprendi aqui que para crescer em palco, tal e qual como na casa de fado, devo arriscar momentos e alinhamentos únicos, mais do que brilhar fazendo o que já sei que resulta.
Entre os meus encontros artísticos no meio do fado estão Beatriz da Conceição, Camané, Maria da Fé, Carlos do Carmo, Maria Amélia Proença, João Ferreira-Rosa, Manuel Martins, Fontes Rocha, Fernando Peres (Paquito), José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença, Paulo Parreira e Rogério Ferreira, e há alguém vindo de fora do fado, mas por dentro da música e das palavras, o Pedro Gonçalves, dos Dead Combo, meu produtor musical desde o último disco – Romance(s) – o cúmplice criativo que me faz ir mais longe, e com quem vou ter, também, um momento fundamental neste concerto.
Aprendi com o fado a despedir-me, a partir e a regressar, por saber e sentir que tenho um lugar marcado onde sei que me encontro, a bem ou a mal, num espaço sagrado e vital e, por isso, inviolável. Nele descubro que do luto se renasce e que de amor nunca morri. Esta é a minha fortaleza redentora, ora consoladora, ora agreste, ser fadista. E é meu desejo que vos sirva de alguma coisa: a escuta.
Aldina Duarte