O estranho, o fantástico, o bizarro poderão estar afastados do nosso quotidiano, neste mundo pragmático e realista em que (quase) todos vivemos. Considerado como uma categoria bem definida, principalmente no Cinema, o Terror, embora muito popular, está normalmente contido dentro das fronteiras de um género específico que, em Literatura, remete para o que foi cunhado de "gótico". Mas os nossos sentidos não desdenham de um bom calafrio, de um susto inesperado que façam emergir a nossa atávica ligação ao "folclore" (folk-lore). Embora os fantasmas e outras aparições funestas tenham sido maioritariamente relegadas para os jogos de computador e para as séries televisivas, a história da Literatura, principalmente a partir do Romantismo, continua a explorar um certo tipo de imaginário, aquilo a que Sigmund Freud chamou de "unheimlich", ou seja, o que não é familiar, o que se encontra "entre dois mundos", entre a luz e a sombra, entre o racional e o irracional, entre o que é explicável e o que é inexplicável. Neste ciclo de leituras, tentaremos perceber em que espaço nos movimentamos quando deparamos com situações tão estranhas como o fanatismo religioso no recente romance de Hurley, as perturbações da infância e adolescência em James, a estranheza de "ser diferente" na sulista O'Connor, os truques mágicos e satíricos de Sena, a hilariante e elegante paródia fantasmagórica de Wilde ou o exemplo do "gótico" sofisticado de Brontë. Um ciclo que não é uma viagem no comboio fantasma mas que promete brumas, catacumbas, ranger de portas, correntes de ar maléficas, aparições, donzelas em perigo e um ou outro arrepio de desconforto.
Helena Vasconcelos
12 de janeiro
Santuário, Andrew Michael Hurley, ed. Bertrand
26 de janeiro
O Aperto do Parafuso (ou O Calafrio, ed. Europa-América),
Henry James, ed. Sistema Solar
9 de fevereiro
O Físico Prodigioso, Jorge de Sena, Guimarães editora
23 de fevereiro
O Céu é dos Violentos, Flannery O'Connor, ed. Relógio D'Água
9 de março
O Fantasma de Canterville, Oscar Wilde, Porto Editora
23 de março
Jane Eyre, Charlotte Brontë, ed. Relógio D'Água