O amor pelas coisas abre o reino da mercadoria. Esse tipo de amor é exibido em todas as direções do espaço público das nossas cidades, basta-nos «abrir os olhos para que todo o espaço entre o nosso corpo e o horizonte seja uma única e infinita exposição de mercadorias». Ou talvez seja o inverso, talvez sejam as mercadorias – entidades misteriosas, como lembrava Marx – que abrem novas possibilidades para a expressão do amor, sendo a publicidade a sua proclamação e o seu conto moral. Só somos, só amamos, porque as coisas determinam já uma possibilidade de ser e de amar.
É recolocando a questão das mercadorias, da «reificação bem-‑sucedida» que cada uma é, que Emanuele Coccia nos traz uma reflexão sobre a relação do mundo contemporâneo com as coisas que se apresentam sob a forma de mercadoria. Poderíamos dizer que, tendencialmente, tudo aparece como mercadoria e que nesta se apresenta a forma moral das nossas sociedades.
A partir de elementos diversos da nossa herança cultural, Coccia não nos traz apenas uma perspetiva original sobre o cruzamento entre discurso moral e publicidade: ele consegue renovar o discurso ensaístico contemporâneo, propondo-se escrever a partir de um afastamento daqueles mestres da suspeita que durante décadas regeram o exercício público da inteligência. Trata-se, afinal, de retomar pelo discurso algo que é próprio do bricoleur.
Assistiremos à conferência de lançamento do livro O Bem nas coisas. A publicidade como discurso moral de Emanuele Coccia, seguida de uma conversa entre o autor e Pedro A.H. Paixão (editor), Jorge Leandro Rosa (editor e tradutor) e António Guerreiro.
Emanuele Coccia é Professor Auxiliar na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Das suas publicações, traduzidas em diversas línguas, destacam-se A vida sensível (2010), Le bien dans les choses (2013) e La vie des plantes (2016). Foi coeditor com Giorgio Agamben da antologia monumental Angeli. Ebraismo Cristianesimo Islam (2009).
O Bem nas coisas. A publicidade como discurso moral de Emanuele Coccia, é o IV volume da coleção Disciplina sem nome dirigida por Pedro A.H. Paixão para a editora Documenta; um projeto editorial sobre pensamento e teoria de desenho da Fundação Carmona e Costa.