Jejuno é o nom-de-guerre de Sara Rafael, fotógrafa e artista plástica de Lisboa que tem vindo, no último par de anos, a dar a conhecer a sua dimensão de autora sonora, inserida num universo em louvável expansão de criadoras (assim mesmo, no feminino – lembremo-nos, por exemplo, de Raw Forest, Bleid ou da compilação lançada em 2016 pela editora Labareda) que fazem dos sintetizadores digitais ou analógicos portal para uma exploração profunda de um certo psicadelismo noir tangencial às pistas de dança.
O primeiro lançamento, homónimo, de Jejuno, também no passado ano, revela uma notável condução de impulsos e estímulos, erigindo, a partir da transmutação de uma palete sonora de monocromatismos que parecem autoimpostos, peças plenas de movimentos internos, de portos de chegada e de lançamentos elétricos rumo ao desconhecido.
Primeiro encontro em palco de dois músicos que constituem reconhecidas referências das músicas experimentais nos seus respetivos países: Paal Nilssen-Love, norueguês, é um dos mais ativos percussionistas do jazz livre europeu e um ponta de lança de saudáveis miscigenações entre músicos europeus e norte-americanos nos recentes anos, bem como de múltiplas dinamitações de barreiras entre estilos e abordagens (recordamos o seu trabalho frequente com artistas de linhagens bem distantes do jazz, como sejam Lasse Marhaug ou Terrie Ex).
David Maranha, por outro lado, continua a ser reverenciado como fundador dos Osso Exótico, formação pioneira na transgressão de fronteiras musicais em Portugal, mas também pela constância e riqueza de um percurso de mais de duas décadas em que a sua linguagem se tem tornado a cada momento mais própria e imediatamente reconhecível, seja no seu trabalho a solo, seja nas formações que tem vindo a liderar ou nas inúmeras colaborações que tem vindo a desenvolver – algumas delas com percussionistas do calibre de Will Guthrie, Gabriel Ferrandini ou Z'ev, nas quais poderemos, talvez, encontrar pistas para o que esperar deste encontro com Nilssen-Love.