Do percurso de Bruno Silva, das figuras atualmente mais estabelecidas, criativas e ativas na comunidade de música independente lisboeta, consta a fundação do duo Osso e uma participação reiterada no coletivo Frango, ambos bandas com papel importante no estabelecimento da riqueza dessa mesma comunidade na primeira década deste século. Ondness, o projeto que nos últimos anos mais o tem ocupado, granjeando-lhe um reconhecimento e notoriedade que o tem levado a vários cantos do mundo – quer em atuações ao vivo quer em edições discográficas – resulta de uma aprendizagem acumulada por vários anos e várias músicas e de um invulgar reconhecimento e apropriação das várias franjas da cultura popular contemporânea.
Os materiais que manipula em esculturas e paisagismos quase sempre de base eletrónica evidenciam uma peculiar recusa de soluções e resoluções sonoras evidentes ou de metronomias certas que intriga profundamente, sendo particular testamento desta estranheza a recente revisitação que do seu espólio foi feita pelo trio de Gabriel Ferrandini, Hernani Faustino e Pedro Sousa, músicos que habitam esferas – as do jazz – aparentemente tão distantes da sua.
Parece ainda estranhamente recente o momento em que os mais atentos se depararam com uma pequena maravilha de nome O Juno-60 nunca teve fita, concretizada por uma dupla de irmãs mal saídas da adolescência, que provocou com estranhas reminiscências o sentido de surpresa que, mais de 15 anos antes, uma k7 de nome Have you slept with your TV set, dos saudosos Pinhead Society, havia conseguido provocar. Desde então, e passados exatamente seis anos, o nome Pega Monstro é já sinónimo de destaque inevitável em qualquer lista que se proponha exemplificar o que de mais único, mais bravo e mais vibrante se faz na música portuguesa, sendo o disco homónimo de 2012 e o espantoso Alfarroba, lançado em 2015 pela britânica Upset The Rythm, testemunhos do talento único das irmãs Júlia e Maria Reis – que continuam a cantar um português real, tão miraculosamente real como aquele que é falado, quotidianamente, por toda a sua geração, e a, sobretudo, materializar numa obra que é sonicamente direta, simples e comovente – na exata proporção em que é subtil, complexa e excitante – o rock em estado realmente puro.