De que falamos quando falamos de um “clássico”? Como escolhê-lo, classificá-lo, analisá-lo? O que faz, de uma determinada obra literária, um “clássico”, ou seja, uma referência fundamental, bem enquadrada num “cânone”? Porque a colocamos num pedestal solene e, por vezes, majestosamente distante? Segundo Ítalo Calvino, no seu ensaio, “Porquê Ler os Clássicos?” (ed. Teorema), uma obra pode reivindicar esta categoria se o que tem para dizer nunca terminar, isto é, se possibilitar uma leitura infinita. Em termos mais “técnicos” é costume definir um “clássico” como um livro que, em primeiro lugar, resiste ao tempo – nunca menos de dez anos, segundo os especialistas – em segundo lugar, refere e discute temas universais e não particulares de uma cultura ou geografia e, em terceiro lugar, exerce uma influência duradoura sobre outros(as) escritores(as), ao longo dos séculos. É ainda Ítalo Calvino que afirma que um “clássico” não se “lê” mas “relê-se”, convocando discursos críticos mas “livrando-se continuamente deles”.
As obras escolhidas para este ciclo são algumas, entre muitas, que cabem inteiramente em tais categorias. Será tarefa desta comunidade discutir e repensar a pertinácia da universalidade das histórias bem portuguesas contidas na obra de Agustina, a não menos importante cosmogonia brasileira de Machado de Assis, o infindável questionamento ontológico do Ser em Shakespeare, as possibilidades amorosas em Goethe ou a eterna questão da confusão e transmigração dos géneros, com Woolf. Terminaremos com (um) “O Banquete” platónico que, na realidade, antecipa e pressupõe os temas já enunciados.
Com o progressivo afastamento do estudo das chamadas Humanidades das escolas, talvez seja a altura de revivificarmos, revisitarmos e honrarmos este precioso legado.
Helena Vasconcelos
4 de janeiro
Hamlet, William Shakespeare, ed. Assírio & Alvim, 2016
18 de janeiro
Dom Casmurro, Machado de Assis, ed. Alêtheia Editores, 2016
1 de fevereiro
As Afinidades Electivas, Johann Wolfgang Goethe, ed. Bertrand, 2017
15 de fevereiro
Orlando, Virgínia Woolf, ed. Relógio D’Água, 2016
1 de março
A Sibila, Agustina Bessa-Luís, ed. Relógio D’Água, 2017
15 de março
O Banquete, Platão, (O Simpósio ou do Amor), qualquer edição.