O trio de Lucia Cadotsch dedica-se à interpretação dos velhos standards do jazz e designadamente das canções do real book americano que vieram de Tin Pan Alley ou da Broadway, mas em vez de o fazer passivamente, desmembra-os, por vezes literalmente, e apresenta-os de forma diferente. Ainda é possível reconhecê-los (é esse o propósito, ou o repertório não incidiria sobre composições particularmente conhecidas como Gloomy Sunday, Strange Fruit ou Moon River), mas surgem como temas do nosso tempo e não como relíquias de museu. Inclusive, determinados detalhes das composições originais transformam-se em motivos condutores, tal como no sampling do hip-hop. O facto de o grupo não incluir um instrumento harmónico nem uma bateria, e de a leitura realizada ser intencionalmente crua, fugindo ao romantismo que lhes estava implícito, ajuda a caracterizar a diferença desta abordagem da cantora suíça e dos seus parceiros da Suécia, Otis Sandsjö e Petter Eldh. Além de que o saxofone tenor do primeiro pode, por vezes, soar como um sintetizador vintage e o contrabaixo do segundo como uma drum machine da década de 1980, rodeando a voz com a desenvoltura inaugurada pelo free jazz. O grupo chama ao que faz de «retro-futurismo acústico», estando em linha com outros projetos em que encontramos ou encontrámos Cadotsch, como LIUN and the Science Fiction Band («pop sintética para pessoas do dia depois de amanhã»), Yellow Bird («bluegrass super-dada») e Lucerne Jazz Orchestra («swing do século XXI»).
Lembrem-se do nome Lucia Cadotsch – vai ser muito falado. Cadotsch é uma jovem cantora suíça que canta com uma clareza clássica, a simplicidade da música folk e um apetite genuíno para interpretar canções famosas, na companhia de dois instrumentalistas free-jazz superdotados… É tudo estranhamente delicioso.
John Fordham, The Guardian
The Lucia Cadotsch trio play jazz standards from Tin Pan Alley or Broadway, making these modern themes instead of museum relics, with certain details becoming guiding threads, as in hip-hop sampling. Their music is deliberately raw: Otis Sandsjö's tenor sax sometimes sounds like a vintage synthesizer and Petter Eldh's double bass like a 1980s drum machine, enveloping Lucia's voice with the sprightliness of free jazz. The group describe what they do as "acoustic retro-futurism", in line with Cadotsch's other projects (LIUN and the Science Fiction Band, Yellow Bird, Lucerne Jazz Orchestra).