"Se penso em alguém que conta uma história, imagino um grupo de pessoas amontoadas e, à volta delas, um vasto espaço... particularmente assustador... talvez estejam encostados à parede, talvez junto ao fogo, à lareira... algures, para mim, a história é um abrigo... [...]
O contador de histórias está simultaneamente no centro, intimamente, e à distância no horizonte. Ele é o horizonte, com a história de um lado e, do outro, com o geral."
John Berger (1926-2017)
Poderíamos traçar uma linha – um horizonte – que, por conveniência, designaríamos de storytelling e perante o qual toda a narrativa (ou memória humana) ora convergiria ora divergiria, fazendo vibrar essa linha como vibra uma corda vocal. Eis-nos aí, então, munidos de um instrumento pelo qual mediríamos as variações de tensão entre os homens, o volume do seu ruído, o alcance do seu desacordo, a textura do seu mal-estar... numa espécie de agrimensura poética, inseparável de cada expressão literária, de cada pedaço de história, ou narrativa...
sim sim não não é uma tentativa de suspensão momentânea na conversa havida entre John Berger e Susan Sontag, em Voices, um programa do canal Channel Four (1983). Se ali, durante uma hora, se procura vincar razoavelmente as diferenças de percurso pessoal, relativamente à herança deixada pelo storytelling, aqui, neste trabalho, forçam-se essas diferenças a uma sobreposição (espectral), estranhos, como se dependêssemos, por momentos, apenas, desse pequeno gesto para uma visão plena do fio original, da linha de horizonte, da voz humana primeira, presumidamente perdidos, não sabemos porquê...
"The storyteller is both at the centre, intimate, and at a distance, on the horizon." We could draw a line (a horizon), with the whole narrative converging on it or diverging from it, making it vibrate like a vocal cord, measuring the varying tensions between people. sim sim não não is like a suspended moment in the conversation between John Berger and Susan Sontag in their Channel Four programme Voices. There, they marked out the differences in their personal paths, here they overlap, as if we depended on a full view of the original thread, the line of the horizon, the human voice.