Entre 1966 e 68, Ernesto de Sousa (1921-88), um artista multidisciplinar, curador, realizador e crítico de arte, próximo do movimento Fluxus, recebeu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer um levantamento fotográfico, à escala nacional, da escultura portuguesa de expressão popular. Fotografou trabalhos e entrevistou artistas de norte a sul do país, demonstrando um interesse semelhante ao que outros pensadores e artistas da sua geração desenvolveram por "uma outra História da arte" ou até "anti-arte".
Paula Pinto, historiadora de arte e pesquisadora deste arquivo, abordou a coreógrafa Vera Mantero e propôs-lhe desenvolver uma apresentação performativa em torno deste material. Mantero viajou para alguns dos destinos visitados por Ernesto de Sousa na sua viagem original, estudando as questões levantadas por este arquivo e iniciando em torno deste uma "pesquisa através do corpo e da ação".
As Práticas Propiciatórias dos Acontecimentos Futuros é o que Ernesto de Sousa dizia procurar na arte popular. Uma arte na qual ele reconhecia a existência de autores e não apenas formas tradicionais transmitidas, uma arte de soluções formais em vez de simples repetição de padrões.
Como habitualmente no seu trabalho, Mantero explora imagens, objectos e textos, além de materiais puramente coreográficos. Aqui, olha não só para os estudos de Ernesto de Sousa em torno da arte popular como também para o impressionante trabalho intermedia de Sousa, cartografando as ligações possíveis (e impossíveis) entre arte popular e erudita, arcaica e contemporânea.
From 1966 to 1968, Ernesto de Sousa undertook a photographic survey of Portuguese popular sculpture, interviewing artists and showing an interest in "anti-art". The art historian Paula Pinto proposed a performance based on this material to the choreographer Vera Mantero, who visited some of the places in the survey, conducting a "research through body and action" based on Ernesto de Sousa's archive. Ernesto de Sousa recognized in many popular art works an artistic practice that provided new formal solutions instead of simply repeating traditional patterns; Vera Mantero explores possible links between popular and erudite art.