Desde que vi Gato e Rato (Carneiros) pelas Visões Úteis em 1997, trabalhei de Gregory Motton Ao Olhar para Ti (Renascido) de Novo nos Artistas Unidos, Recado Aos Corações Despedaçados com as Visões Úteis, A Ilha de Deus no CITAC. E sempre que penso num próximo espectáculo vem-me logo à cabeça este autor. Continuo a acreditar que faz sentido fazer este teatro tão próximo da nossa realidade mas ao mesmo tempo tão longe do realismo.
A escrita de Motton é multifacetada e aguda, assume várias formas plenas de arestas. Tanto está próxima da sátira como da poesia, tanto constrói farsas mordazes como monólogos introspectivos. Quando decidimos pegar no texto Gengis Entre os Pigmeus foi porque o tema nos dizia directamente respeito – a desagregação do carácter – mas também porque operava a nível colectivo – a sátira ao consumismo.
Este é o segundo texto (o primeiro é Gato e Rato) de uma trilogia, que prossegue em Férias ao Sol. As três peças partilham as mesmas personagens e a mesma temática. É uma espécie de telenovela da neurose. Na primeira peça, o merceeiro e depois imperador Gengis Cão ascende às altas esferas do materialismo selvagem, ditando leis absurdas até ser vítima das suas próprias forças e acabar com a corda ao pescoço depois de uma lobotomia preparada pelo seu poeta Prepúcio.
Gengis Entre os Pigmeus recomeça as aventuras de Gengis, do seu Tio e da Titi, no mesmo momento. Gengis em cima da cadeira – ainda indeciso. Quanto tempo passou desde o fim de Gato e Rato? Seja como for, a Titi traz boas notícias: a pena capital foi abolida – ele já não precisa de morrer. Regressam com força renovada e tentam reconstruir o império. Assistimos à vertigem consumista do Natal, à invenção de novos negócios, a uma declaração de guerra comercial aos EUA, a uma viagem às Filipinas. Gengis procura um sentido para a vertigem, mas essa procura só o atira, inexoravelmente, para mais longe de si mesmo. A esperança transporta-a o Tio. Ele serve-nos uma chávena de café Arco-íris© – a sua nova marca registada. Essa esperança também é a nossa, por isso a partilhamos com o público.
Pedro Marques
Pedro Marques é tradutor, encenador, dramaturgo, actor e iluminador. Traduziu entre outros Pinter, Sarah Kane, Pasolini, Motton, Bond, Anthony Neilson e Letizia Russo. Encenou Motton, Pinter, Conor McPherson, Neilson, Kane, Davide Enia e Orgia de Pier Paolo Pasolini, que passou pela Culturgest em 2006.
Tradução e encenação Pedro Marques
Com Dinarte Branco, Teresa Sobral, Inês Nogueira, Pedro Marques e Teresa Tavares
Cenografia e figurinos Luís Mouro
Iluminação Fora de Cena
Assistência de encenação Teresa Tavares
Produção Executiva Andreia Trinkle, Fora de Cena
Fotografia Pedro Polónio shape\* mergeformat
Uma co-produção Fora de Cena, Culturgest e Festival de Almada
Agradecimentos Carlos Mesquita e Francisco Miguel
Pedro Marques has directed two plays by Gregory Motton. Motton’s plays are close to reality yet far from realism: multifaceted and sharp, satirical yet poetic. Gengis among the Pigmies is a satire on consumerism – the second play in a trilogy. It takes up the story of Gengis as he rebuilds his empire, including the terrors of Christmas shopping and a trade war against the USA.
Pedro Marques is a translator, director, playwright, actor and light designer. He has translated and directed plays by Pinter, Sarah Kane, Pasolini, Motton and Anthony Neilson.
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