“A natureza do homem é verdadeiramente ser livre e desejar sê-lo, contudo
o seu carácter é tal que ele segue instintivamente as tendências que
a sua educação lhe dita.”
Étienne de la Boétie
Atravessando países confucionistas convertidos à economia global, pensei
em La Boétie, que tinha lançado as sementes da modernidade – não tinha
visto em nenhum outro lugar um pensamento seguido colectivamente até
este ponto. Este francês, este europeu, este Corpo Branco que propôs
a desobediência, a recusa, o não fazer, inventando a ideia da não-violência
para fugir à servidão voluntária, que pensou a liberdade que há em cada
pessoa. Na minha estadia vi um indivíduo, exausto todo o ano, desprotegido,
sem lazer, trabalhando sem parar. Este corpo de trabalho que, apesar
de tudo, parece feliz ao caminhar pela cidade brilhantemente iluminada.
A seu lado, uma criança que satisfaz os seus desejos com roupas novas
e pompas e que parece também feliz. Este corpo de indústria, qual grito
encurralado, que vê no divertimento um sentido de vida, a quem pertence?
Quem o empurra, quem o conduz? Sob que domínio existe?
Ea Sola
Conferência realizada no âmbito deste espectáculo:
Corpos em protesto: reflexões sobre dança e política
Por Maria José Fazenda