Je suis snob
Boris Vian
Já lá vão mais de 50 anos a ver e, mais tarde, a fazer teatro. Desde
Mar de Miguel Torga, pelo TEP (em 1960? 61?), encenação de
António Pedro, com a minha depois amiga Dalila Rocha, no Teatro Variedades,
até ao Não se brinca com o amor de Alfred de Musset (esse que
se perguntou “Com que sonham as raparigas?”), que estreamos em Viseu,
em Setembro de 2011. E já vi passar tanta coisa, críticos que surgiram,
aterrorizaram as hostes durante nove meses e desapareceram ou se tornaram
directores de televisões (sim, sim), amigos que foram ministros, ministros
que se tornaram inimigos, programadores que não sei quem os inventou,
directores de teatro, directores-gerais que encontro, frustrados, impotentes,
reformados, tanta gente que andou pelas estreias (“hoje está cá fulano”,
até se diz nos camarins, como se isso fosse determinante) e se foi indo
embora. E que deixaram? Apetece-me lembrar-me dos seus percursos (alguns),
das suas promessas, das suas derrotas, das suas ilusões, dos seus fracassos.
E dizer que não gosto, não gosto mesmo nada, não gostei nem gosto. Não
gosto dos críticos que temos (e dos que tivemos?), não gosto dos programadores-autores
(que temos e teremos?), dos ministros, directores-gerais sempre nomeados
que nem Sísifos e a refazer leis que nem Penélope eliminando pretendentes,
não gosto. Não digo das pessoas, até há de quem gosto e gostarei: é
das funções, do tempo que perdem, do tempo que fazem perder, do mundo
que tapam. Por isso vou dizer tudo e espero que olhos nos olhos. E,
porque gosto de happy-ends, dizer que gosto, gosto de actores, actrizes,
técnicos.
Jorge Silva Melo
26 de Setembro
Não gosto dos críticos, não gosto
10 de Outubro
Não gosto de programadores, não sei o que fazem
17 de Outubro
Não gosto de ministros, secretários, chefes de gabinete, vereadores,
assessores, directores-gerais e em geral
7 de Novembro
Gosto de actores, ai de mim