Celebrado pela crítica e pelo público, este é um notável documentário (de 1h45 minutos) sobre o espectáculo, da companhia belga GROUPOV, Rwanda 94, encenado por Jacques Delcuvellerie e apresentado no Ruanda 10 anos após o genocídio. Recolhendo cenas do espectáculo e testemunhos de ruandenses – que assistiram nessa altura ao espectáculo –, vemos confundirem-se nos seus depoimentos lembranças dolorosas e o ressentimento face ao silêncio cúmplice com que a comunidade internacional encarou o genocídio. Subintitulado “A propósito de uma tentativa de reparação simbólica para com os mortos para uso dos vivos”, o filme integra partes do espectáculo – que em 1999 se apresentara em antestreia no Festival de Avignon –, e que conjugava de modo fulgurante o teatro de interrogação e denúncia política com a mais veemente e magoada forma da tragédia coral grega. Precedido de uma investigação que durara cinco anos e mobilizara historiadores, artistas, compositores e jornalistas, o espectáculo, de seis horas e meia, era um documento artístico perturbador e fascinante em que a palavra dita e a música (em que sobressaía a belíssima e pungente cantata de Bisesero) se aliavam para criar em cena uma invulgar anatomia de um crime.
A projecção do filme e o debate são a introdução a um colóquio que se realizará na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no dia 4 de Julho, a partir das 9h00, integrado no curso “Ciências das artes performativas: Interpelações ao séc. XXI”. Aberto à participação dos interessados, o colóquio tem por tema “Repensar o teatro | Dar testemunho da História | Convocar os mortos”.
As propostas de comunicação devem ser enviadas até ao dia 11 de Junho para estudos.teatro@fl.ul.pt.