Contrabaixo William Parker
Nascido a 10 de janeiro de 1952 no Bronx, William Parker é bem capaz de ser um dos mais importantes músicos de jazz dos últimos 30 anos, se bem que essa posição esteja longe de ser unanimemente reconhecida. Na altura em que o jazz estava associado à luta pelos direitos civis dos afro-americanos, muito jovem ainda, já ele conquistara uma posição de relevo na cena de Nova Iorque, dirigindo a sua própria orquestra. Na década de 1980, quando se vivia o revivalismo bop e a crítica ignorava ostensivamente a atividade da vanguarda jazzística, o que acontecia no rescaldo do free gravitava em seu torno. Parker era o símbolo de uma resistência.
Nunca, porém, a história e a tradição foram ignoradas por este contrabaixista e compositor que também toca instrumentos étnicos de cordas, sopro e percussão – como ele próprio já disse, o seu interesse pelo pan-africanismo cósmico de um Sun Ra nunca o impediu de dar atenção a, por exemplo, Lee Morgan. Além da Little Huey Creative Music Orchestra e dos grupos In Order to Survive e Other Dimensions in Music, dedicados a continuar os princípios libertadores da new thing, deu início a projetos em que os seus postulados experimentais de sempre se cruzam com os formatos populares da música negra. Com o Raining on the Moon Sextet e a trupe The Inside Songs of Curtis Mayfield vem redescobrindo o molde da canção e as virtudes do swing, ao mesmo tempo que volta a dar mensagem política a uma prática musical que a perdera.
A solo, perceberemos todos os motivos porque tem sido indicado como o mais insigne contrabaixista da atualidade, da revista Downbeat à Jazz Journalists Association. Foi este mesmo homem que confortou Peter Kowald nos últimos segundos de vida deste e que ofertou um contrabaixo a Henry Grimes quando o antigo companheiro de Albert Ayler regressou às lides musicais. Ativista consequente, é ele igualmente que tem estado por detrás de tantas iniciativas de apoio à comunidade musical nova-iorquina e à população do bairro onde centra a sua atividade, traços da uma nobre personalidade que não deixará de estar evidenciada na música que nos oferecer.
Born in 1952 in the Bronx, William Parker is possibly one of the most important jazz musicians of the last 30 years. When jazz was still linked to the civil rights movement, he was already a major figure on the New York scene, leading his own orchestra. During the bop revival of the 1980s, his avant-garde free jazz was largely ignored by the critics, making Parker the symbol of a resistance movement. Yet this bass-player and composer never forgot the history and tradition of jazz, creating many projects in which his experimental stance has intersected with the popular formats of black music.