“Quando eu nasci, o ovário da minha mãe explodiu e tudo se cobriu de sangue: a cama, o chão do hospital, a roupa das enfermeiras. Estávamos em 1976, e o país também tinha explodido sob um golpe militar. A minha mãe e eu sobrevivemos à explosão.
Mas passados uns dias a minha mãe ficou muito triste. Foi a um médico e disseram-lhe que essa tristeza se chamava depressão e que tinha de tomar uns comprimidos para se curar. Com os anos, a minha mãe começou a viver entre dois extremos: passava meses sem querer sair de casa, quase sem comer nem falar, e noutros meses andava eufórica pela cidade a toda a velocidade, falando de tudo o que ninguém teria coragem de dizer, como a rádio de um país onde não houvesse censura.”
Melancolía y Manifestaciones é o diário da doença de uma mãe contado pela testemunha mais próxima, a sua própria filha. Uma história clínica poética que vai entrecruzando memórias infantis, listas de objetos roubados, ideias de suicídio, crónicas de manifestações. No palco, a filha, a mãe e um grupo de atores de cerca de 75 anos reconstroem algumas cenas do passado sob a forma de um inquietante livro ilustrado.
Lola Arias (1976) é uma escritora, encenadora e performer argentina. Entre os seus espetáculos contam-se Striptease, Sueño con Revolver, El amor es un Francotirador, Mi Vida Después e El Año en que Nací (apresentado no Festival Próximo Futuro, 2012). Em colaboração com Stefan Kaegi dirigiu Chácara Paraíso (Culturgest/alkantara festival, 2008) e Airport Kids. Em 2010 comissariaram o festival Ciudades Paralelas.
O público, maioritariamente jovem, (…) sentiu-se visivelmente impressionado com o teatro despretensioso e descritivo de Lola Arias, que em imagens muito simples produz também poesia.
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