Há um sítio onde dói e é daí que se começa. O importante é isto: Júlio Resende parte do essencial do fado. Amália, de qualquer modo, está sempre no centro. E é daí que canta. Neste concerto, sem voz, nesse lugar do meio, no centro, a levantar-se a partir do essencial, está o piano e, como existe caminho, avança-se. O importante em Júlio Resende e no seu piano: partindo do essencial, nunca se sai de lá. E isso é raro. Avançar, e muito, sem levantar os pés do importante.
Gonçalo M. Tavares
Júlio Resende começa a tocar piano aos 4 anos, e estudou no Conservatório em Faro. Mas cedo se rende ao jazz pela possibilidade de improvisar. Em 2001 vem para Lisboa estudar Filosofia e passa a ser assíduo frequentador do Hot Clube e dos workshops, com grandes nomes do jazz, aí realizados. Mais tarde estudou na Université de St. Denis – Paris VIII. Depois de gravar em quarteto e trio os três primeiros álbuns, Resende regista o seu primeiro CD a solo: em outubro de 2013 a Valentim de Carvalho edita Amália por Júlio Resende. Trazer o Fado ao piano. Cantar as melodias com o piano, em vez de as acompanhar apenas. «Todos os pianistas têm o sonho de realizar um disco a solo. Eu queria fazer o disco a solo mais pessoal possível. Entendo a palavra "solo" como algo que tem a ver com terra, com raízes, com o chão que pisas, que habitas. Entre as minhas memórias musicais mais antigas está a voz da Amália a cantar "A Casa Portuguesa!" ou o avassalador "Estranha Forma de Vida" e ela serve de símbolo para esta viagem musical.» No final do disco, acompanha a voz de Amália no fado Medo. O resultado é muito belo e ao vivo mantém a beleza.