Até há bem pouco tempo, João Hasselberg era conhecido, sobretudo, como um bom contrabaixista que valorizava qualquer formação para a qual fosse convidado. Com o lançamento do seu álbum de estreia em nome próprio, com o longo título, à maneira do romancista Raymond Carver, de Whatever It is You're Seeking, Won't Come in the Form You're Expecting, tudo mudou. Descobrimos que, além do instrumentista, existe um compositor com ideias frescas e amadurecidas e um líder de grupo que, não só sabe escolher os músicos que o acompanham (a nata da cena nacional, entre consagrados e novos valores), como aproveita da melhor maneira as contribuições dos outros músicos para enriquecer as suas partituras.
A música que nos propõe é de inspiração literária, como fica desde logo elucidado pelos títulos do disco e das peças incluídas (The Old Man and the Sea, The Ballad of the Sad Café, On the Road e Amor de Perdição são exemplos bem conhecidos), mas transforma as narrativas e as descrições textuais num cinema sonoro que desperta as imaginações. É essa uma das grandes surpresas que nos traz. A outra é o facto de este ser um jazz descomplexado, que vai beber tanto à música erudita como à pop, que se atreve à complexidade sem qualquer presunção e que consegue ser simples sem entender uma canção como fast food para os ouvidos.
O maior trunfo deste jovem compositor e bandleader, qualidade rara e que deverá ser exacerbada tanto quanto possível, é a sua capacidade de escrever canções, ingrediente que torna a música intemporal e independente de estilos ou caixas estéticas. Essa qualidade tem estado presente em alguns dos mais proeminentes criadores do jazz atual como Ben Allison, Chris Lightcap ou Brad Mehldau. Assim saiba continuar a explorar o seu dom e assim o continue a saber explorar num contexto live. É obra!