Campo Minado reúne veteranos argentinos e britânicos da guerra das Malvinas para explorar o que lhes ficou na cabeça trinta e cinco anos depois. Num plateau de cinema convertido em máquina do tempo, os que combateram teletransportam-se para o passado de modo a reconstruir as suas memórias da guerra e a sua vida no pós-guerra. Lou Armour foi capa de todos os jornais quando os argentinos o fizeram prisioneiro a 2 de abril de 1982 e é agora professor de crianças com dificuldades de aprendizagem. Rubén Otero sobreviveu ao afundamento do navio General Belgrano e tem agora uma banda de covers dos Beatles. David Jackson passou a guerra a ouvir e transcrever códigos de rádio e agora ouve outros veteranos no seu consultório de psicologia. Gabriel Sagastume foi um soldado que nunca quis disparar e é agora advogado de direito penal. Sukrim Rai foi um Ghurka que soube usar a faca e trabalha agora como segurança. Marcelo Vallejo foi apontador de morteiro e é agora campeão de triatlo. A única coisa que têm em comum é que são veteranos. Mas o que é um veterano: sobrevivente, herói, louco? O espetáculo confronta visões distintas da guerra, juntando velhos inimigos para contar uma mesma história.
Campo Minado é o regresso do teatro documental de Lola Arias à Culturgest, depois da autobiografia de Melancolía y Manifestaciones em 2013 e do seu texto para os PANOS desse ano.
Se somos testemunhas do fulgor destes seis homens quebrados é possível que também nas nossas almas ocorra uma modificação. Claro que Lola não procura fazer terapia, nem saberia como. Refina, no entanto, a sua técnica e o seu estilo: a deslocação do melodrama para puro som; as frases curtas e cortantes, como títulos de capítulos que só se montam na cabeça do espectador. Mas a peça é curativa. Uma letal quimioterapia.
Rafael Spregelburd