Elizabeth Costello, uma escritora no final da vida, espera em frente ao "grande portão". Para entrar, tem de fazer uma declaração sobre as suas crenças, frente a um tribunal. Mas o seu argumento de que uma escritora – uma "secretária do invisível", nas palavras de Czesław Miłosz – não deve ter crenças não é bem acolhido pelos juízes. Na expectativa de uma segunda audiência, Elizabeth discute com outras personagens aquilo a que prefere chamar as suas convicções, relativamente a temas como o amor, o mal, a arte e a razão. No entanto, quando chamada a depor, evita estes tópicos solenes, reduzindo a sua alegação à história das pequenas rãs que surgem, na estação das chuvas, no leito do rio da sua infância.
"O Realismo nunca se deu muito bem com as ideias. E não podia ser de outro modo: o realismo assenta na convicção de que as ideias não possuem uma existência autónoma, apenas existem nas coisas. Portanto, quando se trata de debater ideias, como aqui, o realismo tende a inventar situações (…) onde as figuras dão voz a ideias polémicas e, em certa medida, as corporizam", avisa J.M. Coetzee.
A adaptação e encenação de textos não especificamente escritos para teatro tem sido um processo recorrente de Cristina Carvalhal, tendo criado espetáculos como Cândido de Voltaire, Erva Vermelha de Boris Vian e Cosmos de Witold Gombrowicz. Na Culturgest (2009) encenou A Orelha de Deus de Jenny Schwartz.