Por que vias explorar, uma vez mais, as formas possíveis de estar juntos? A união dos indivíduos quase até à fusão? A afirmação dos seus limites e singularidades? Que rituais, que sacrifícios e que pactos são necessários para dar forma a um corpo coletivo, mesmo que só dure um instante? E que paisagens criar para esta nova peça, Pindorama, o nome original das terras do Brasil antes da chegada dos europeus? Este é o território que explora a terceira parte de um tríptico de Lia Rodrigues que começou com Pororoca (que a Culturgest apresentou em abril de 2010), e prosseguiu com Piracema (que a Culturgest apresentou em março de 2012).
(…) Em Pindorama a arte e a natureza selam um pacto firme. Dele surge um território comum em que os materiais mais básicos e também os mais artificiais mostram como que paisagens sobrepostas. As ondas de uma manga de plástico extravasam e tornam-se ondas oceânicas indomáveis. O seu percutir no chão cria sons de tempestade. Estas visões sobrepõem-se às situações encenadas sem uma medida comum mas emocionalmente em perfeito ajustamento. Ao mesmo tempo que os corpos nus de vários bailarinos acabam amontoados como destroços, deslizam-nos diante dos olhos imagens de ciclones. Cataclismo imaginário bem real que o espetáculo exalta de um modo mágico. Do mínimo, Lia Rodrigues extrai o máximo. (…)
Rosita Boisseau, Le Monde, 23 de novembro de 2013