I'm a dog shit ashtray / I'm a shrugging moustache, wearing a Speedo tuxedo / I'm a movie with no plot, written in the backseat of a piss-powered taxi / I'm an imperial armpit, sweating Chianti / I'm a toilet with no seat, flushing tradition down / I'm socialist lingerie, I'm diplomatic techno / I'm gay pastry and racist cappuccino / I'm an army on holiday in a guillotine museum / I'm a painting made of hair on a nudist beach eating McDonald's / I'm a novel far too long / I'm a sentimental song / I'm a yellow tooth waltzing with wraparound shades on. / Who am I? / I am Europe.
Chilly Gonzales
Estes espetáculos não foram pensados como trilogia. Só quando já estava em ensaios do que viria a ser a terceira parte (Tear Gas, em estreia absoluta na Culturgest, depois das versões iniciais apresentadas em Paris no Festival 360˚ do Nouveau Théâtre de Montreuil e nos Chantiers d'Europe do Théâtre de la Ville) é que as três peças trocaram energia e momento.
Decidi chamar-lhe, de modo oficioso, I AM EUROPE, título de uma canção de Chilly Gonzales. Ela consegue aquilo que tento em cada um destes espetáculos, que acompanham dez anos da minha vida artística e pessoal: forjar e expor uma identidade a meio caminho entre a reflexão sobre uma herança cultural judaico-cristã (da qual, mesmo que queira, nunca me consigo desligar) e a minha biografia, material sempre presente no teatro que faço.
É também um processo recorrente no Teatro Praga (e o que vou apresentar na Culturgest não são espetáculos "tipo Praga", como as salsichas "tipo Frankfurt"), as tensões entre o universal e o doméstico ou entre o mistério e a razão (George Steiner chama-lhe "a tensão entre gregos e judeus"). Mas nesta trilogia talvez esse jogo dúplice – a Europa e Eu – se materialize de forma mais visível por ser um trabalho eminentemente individual.
I AM EUROPE é um retrato a três velocidades de um mapa antropomórfico.
Pedro Zegre Penim