Estou no segundo depois do anúncio. Suspiro e sinto-me incluído: "Vai começar e dependem de mim." Eles. Os heróis, os que chegam no meio do nevoeiro – sempre o nevoeiro. Belos. Bélicos. Prontos para o ataque e eu com tanto amor para dar. O circo está montado e eu, no segundo depois do segundo, interesso-me – é tudo tão interessante! Estou consciente. Sou consciente. Sou um mestre na arte de decidir.
Temo tremer no momento da aplicação do meu direito. Devo intervir. É tudo tão horrível! Doem-me os dedos. Tenho pesadelos com tantos efeitos! E até aqui só mediocridade. Nem uma pontinha de sangue. Bem-vindo ao jogo da vida real. Da arte real. Do nu-artístico. One day you're in, the next day you're out. Auf Wiedersehen!
Loveable não pretende ser admissível, aceitável ou suportável. Quer que o amem, que o contemplem, num mundo desligado de discussão. Este é um espetáculo onde a responsabilidade é inteiramente do público. É ele que decide a sua continuação (talvez decida mesmo o seu não-início). Em cena, intérpretes, músicos e cerejas-no-cimo-do-bolo disputam o "tempo de antena", incitando o público a adorar. Lutam pelo seu interesse. Lutam para serem amados. Loveable quer ser interessante – e isso importa?
Originalmente fundada por Raimundo Cosme e Cecília Henriques (atores que já estiveram na Culturgest em Day for Night de Cão Solteiro & André Godinho), Plataforma285 (agora com mais quatro cúmplices) é uma companhia que deve o seu nome ao orçamento em euros do primeiro espetáculo que criou, em 2011.