Duas exposições de Pedro Diniz Reis (Lisboa, 1972) na Culturgest – a primeira no outono de 2010, no Porto, Um dicionário, quatro alfabetos, um sistema decimal, a segunda no verão de 2011, em Lisboa, De A a Z – desvendaram, em todas as suas variantes, uma linha de investigação dentro do seu trabalho muito diverso. Utilizando signos linguísticos como matéria abstrata, puramente significante, e aplicando regras predeterminadas de organização desses elementos, o artista realizou um conjunto de composições visuais e/ou sonoras (usando o vídeo, o som e o livro como media) que induzem uma experiência fortemente imersiva. No final de 2003, na sequência de uma série de obras em vídeo relacionadas com o seu interesse pelo tema do fetichismo enquanto expressão e sublimação do desejo, o artista iniciou uma aprendizagem das técnicas do shibari, palavra japonesa para atar, que designa igualmente uma prática muito enraizada na subcultura ligada ao fetichismo e ao sadomasoquismo. A sua aprendizagem do shibari foi feita no Japão com vários mestres, principalmente com Nawashi Akechi Denki Sensei, com quem estudou até ele falecer em 2005, e desde então com o seu principal discípulo, Nawashi Kannam, mas também, desde há mais de dois anos, com Kinbakushi Naka Akira. Pedro Diniz Reis tem vindo a apresentar numerosos espetáculos de shibari no contexto cultural onde essa prática é cultivada. Em 2005, o artista realizou uma belíssima e despojada performance na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa, em que o shibari se emancipava dos códigos culturais e estéticos próprios do seu contexto de origem, para ganhar uma extraordinária ressonância enquanto trabalho de escultura e à luz da história do nu na arte ocidental. Pedro Diniz Reis é hoje muito mais experiente e versátil na utilização das técnicas do shibari do que em 2005. A sua performance na Culturgest é um momento raro e que se antevê imperdível.