A presença de Ana Popovic no Grande Auditório poderá levar alguns pontos de vista para a opinião de que o Hootenanny 2016 cedeu ao pop… A exuberante presença de Ana (o seu nome, com ponto de exclamação e tudo, foi suficiente para dar título a um álbum do consagrado Salomon Burke…), não apenas pela sua voz e fulgurante guitarra, mas igualmente por cuidado no guarda-roupa, escasso porque o escultural corpo e a frondosa cabeleira fazem o resto…
Ana Popovic já ganhou nos Estados Unidos os prémios que a consagram como uma inquestionável presença da atual cena dos blues e rhtythm and blues e as críticas são unânimes: estamos perante uma grande intérprete – que tem a sorte de ser servida por uma sedutora presença de palco. Ora, sendo certo que nasceu na Sérvia e não em New Orleans ou Chicago, a verdade é que traz ao palco uma sensualidade que é parte constitutiva dos próprios blues.
A expressividade física das interpretações afroamericanas resultam da própria história dos blues e do jazz, da trajetória dos escravos negros e a exploração da sua única (e condicionada) propriedade, o próprio corpo. Desde os barrelhouse blues à sofisticada sensualidade de Tina Turner, desde Billie Holiday ao insinuante estilo de uma completamente loira intérprete como Diana Krall, não é difícil compreender porquê a Améria puritana se assustou com a paixão da sua juventude nos anos 50 pela música saída dos ghettos e das plantações. Que fora até batizada, tentando impor-lhe o segregacionismo que regia a sociedade, de race music.
Em 2016 o Hootenanny apresenta o que se anuncia como um notável espetáculo do Grande Auditório, mas faz igualmente justiça a duas outras linhas marcantes dos blues: o seu apego às raízes, com Catfish Keith, uma expressão da quase ímpar marca dos blues no panorama da música popular contemporânea onde a indústria privilegia a alegada novidade em detrimento sistemático do clássico. E essa notável capacidade, já demonstrada por uma presença balcânica, dos sons do Delta cruzarem o oceano e chegarem também a Portugal! Os Serushio são das últimas expressões duma produção que entre nós tardou, mas que se revela de boa saúde, sendo de toda a justiça sublinhar a austeridade e a virtuosidade de um duo que não teme aventurar-se nas sinuosidades rítmicas e pentatónicas a viverem pela sua qualidade e não pelos decibéis.
Ruben de Carvalho
Sábado 19 novembro
Segunda 21 novembro
Quarta 23 novembro
It is hard to trace the origin of the blues, but it is generally agreed that it was created by Afro-American slaves or their descendants, who worked on the plantations in the southern United States. Later it accompanied their migration to Chicago, spreading all over the world and, through jazz and rock and roll, having a major influence on American and European popular music. Yet the blues still maintains its individuality, with its famous "blue notes", chords and melodic structure. This edition of Hootenanny seeks to show how it has become a genre played by everyone, including the Portuguese.