Chiado8 Arte Contemporânea,
inaugurado em Janeiro de 2002, é um projecto da Companhia de
Seguros Fidelidade Mundial que, aproveitando a localização
privilegiada de um dos seus edifícios centrais, decidiu participar
nas iniciativas de reabilitação do Chiado através
da criação de um espaço de divulgação
da arte contemporânea cuja programação está,
desde Março de 2006, entregue à Culturgest. No primeiro
triénio, de Maio de 2006 a Janeiro de 2009, o curador responsável
pela programação deste espaço foi Ricardo Nicolau.
Até 2012, o programador e curador das exposições
apresentadas foi Bruno Marchand.
|
Chiado 8 Arte Contemporânea Largo do Chiado, nº8 1249-125 Lisboa Tel 21 323 7346 www.fidelidademundial.pt De segunda a sexta-feira, das 12h00 às 20h00. Encerra aos fins-de-semana e aos feriados. |
À Distância
Linha de Horizonte Da singular e multifacetada obra que Lourdes Castro tem vindo a construir desde meados da década de 1950 sobressai uma clara tendência para a economia de meios e de gestos. Longe de ser uma regra protocolar, esta tendência verifica-se, essencialmente, porque ela coincide com uma postura artística que privilegia a criação de situações ou objetos capazes de nos imporem uma atenção concentrada, uma experiência profunda e, também por isso, intensificada. Não será por acaso que alguns dos mais contundentes exemplos desta situação tenham surgido no âmbito do interesse que a artista desde cedo dedicou à sombra enquanto fenómeno e, sobretudo, enquanto território fértil para a produção de sentido. Seja no recurso a serigrafias, plexiglas ou panos, a concretização material deste envolvimento de Lourdes Castro com a poética da sombra passou sempre por uma parcimoniosa gestão das suas dimensões concreta e metafórica, num processo que teve uma das suas mais brilhantes concretizações no Teatro de Sombras que a artista criou e desenvolveu em parceria com Manuel Zimbro a partir do final da década de 1960. Para aquela que será a última exposição deste segundo ciclo curatorial no Chiado 8, Lourdes Castro revisita precisamente o Teatro de Sombras. Num momento de absoluta concentração e despojamento, será revelado neste espaço o eco de uma performance na forma de uma inscrição – um gesto que subsiste e se prolonga no tempo, reconduzindo e ampliando a sua intenção original. |
24.05
26.07.2013 |
Vraum
O trabalho recente de Gonçalo Barreiros (Lisboa, 1978) revela, simultaneamente, um domínio irrepreensível da mecânica do humor e uma consciência arguta do modo como este destabiliza os preconceitos e as censuras que governam muitos dos nossos valores sociais. Uma parte significativa da sua produção tem sido investida na criação de aparatos cómicos cuja amplitude alberga gestos simples, como a mera inversão da cabeça de um martelo de orelhas, e outros bem mais complexos, como a construção de engenhos eletromecânicos através dos quais se produzem situações insólitas e, não raramente, perturbadoras. Mais do que da criteriosa seleção daquilo que na gíria humorística se apelida de punch line, a singularidade das propostas deste artista provémdo modo cuidadoso como elas preparam esse momento de libertação que irrompe no riso, mas também da forma como promovem, através da sua reincidência, a transformação de uma experiência prazenteira na revelação da violência que subjaz a qualquer modalidade do ridículo, do patético ou do imoral. A exposição que Gonçalo Barreiros traz ao Chiado 8 alarga substancialmente o seu território autoral. Tomando o espaço expositivo como uma gigantesca moldura, em Vraum o artista estabelece um jogo de relações materiais e humanas cujos resultados compreendem, entre outros, uma incursão pelo estreito campo de encontro entre a escultura e a expressão gráfica, um teste à natureza intersubjetiva da arte e à sua pretensa vocação comunicativa, ou uma investigação sobre o dúbio estatuto do espectador enquanto ator ou personagem da sua própria experiência artística. |
01.03
10.05.2013 |
Preto e branco
Para quem há já demasiado tempo vive sob o jugo da especialização e daquela singela, porém brutal, ideia de que o caminho para a verdade das coisas não admite nem inflexões críticas nem deslumbramentos superficiais, o trabalho de Pedro Sousa Vieira (Porto, 1963) é uma espécie de grande exercício herético. Recorrendo a meios tão diversos como o desenho, a pintura, a fotografia, a colagem, a escultura ou, mais recentemente, o vídeo, a prática deste artista recorda-nos que à conceção que defende que o conhecimento só é verdadeiramente possível por via de uma busca sistemática, progressiva e focada, existe uma alternativa que opta por se aproximar dos mistérios do mundo na base da sua diversidade, da sua amplitude e do seu intrínseco fascínio. Sem culpa e sem arrependimento, o método de trabalho deste artista está assente numa total disponibilidade para acolher, inspecionar, perceber e inter-relacionar os mais díspares signos e fenómenos visuais, fazendo do seu processo criativo um ágil e singular dispositivo de teste à resistência das imagens face a esse suposto regime de exceção a que chamamos experiência artística. Fruto do seu confortável posicionamento entre meios e da sua atenção difusa, a exposição que Pedro Sousa Vieira traz ao Chiado 8 é repleta de uma ambiguidade produtiva. Nela se confirma essa noção de conhecimento como lugar intersticial onde todas as coisas, reais e fictícias, se interpelam e estabelecem equilíbrios precários, concorrendo num plano de entendimento que só produz sentido quando admitimos que nem tudo tem de ser exatamente o que parece. Pedro Sousa Vieira vive e trabalha em Braga. Licenciou-se em Artes Plásticas, Pintura, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, em 1989. De entre as suas inúmeras exposições individuais, destaque para desenho, Galeria Quadrado Azul, Lisboa (2007); Fotografia, Galeria da Universidade do Museu Nogueira da Silva, Braga (2005); O Nariz e o Conteúdo, Galeria Canvas, Porto (1999); Enquanto os Guardas Dormem, CAPC, Coimbra (1997). |
30.11
15.02.2013 If I ever catch that ventriloquist I'll squeeze his head right into my fist (pormenor), 2012 Publicação (pdf) |
Peças de substituição
A ideia de tensão faz parte do conjunto de interesses que tem dominado as preocupações artísticas de Renato Ferrão (Vila Nova de Famalicão, 1975). Uma parte significativa das obras que apresentou nos últimos anos explorava aquele fenómeno através de instalações nas quais objetos quotidianos eram suspensos por intermédio de cabos extensores, por vezes mesmo, de simples elásticos, criando um jogo de dinâmicas que desafiava as leis da física e reagia às características arquitetónicas das salas de exposição. Extrapolando o seu resultado visual, estas explorações concorriam num efeito que confrontava o corpo do espectador na forma de uma ameaça iminente: se, por um lado, a rutura daqueles objetos parecia ser um dado a comprovar a qualquer momento, por outro, a sua confirmação comportava um risco evidente para a integridade de todo o espectador apanhado na trajetória daquela anunciada desagregação. O projeto que Renato Ferrão traz ao Chiado 8 amplia significativamente os processos que tem desenvolvido nesta área, juntando-lhes outros dois dos seus interesses diletos: a mecânica interna dos objetos funcionais e a qualidade da luz como a mais abstrata e a menos tangível das matérias artísticas. Partindo de objetos compósitos formados pela associação de componentes avulsos, esta exposição coloca o espectador no centro de um universo onde a destabilização dos primados escultóricos e a velada sugestão cinética oferecem vislumbres claros da violência que se insinua por entre toda a tensão. Renato Ferrão é licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes do Porto, cidade onde vive e trabalha e onde cofundou o Salão Olímpico – espaço independente gerido e programado por artistas entre 2003 e 2006. Das suas exposições individuais, destaque para Longa Duração, mad woman in the attic, Porto (2006), A C ack of ence, A Certain Lack of Coherence, Porto (2008), Episódio 2: Senhor fantasma vamos falar, Emissores Reunidos – Fundação de Serralves, Porto (2009) e Vida Material, Galeria Quadrado Azul, Porto (2010). Em 2010 foi-lhe atribuído o prémio de Artes Plásticas União Latina. |
21.09
16.11.2012 |
Tríptico
A pintura de Pedro Casqueiro (Lisboa, 1959) tem sido, em grande medida, um criterioso e sofisticado jogo entre a construção de uma identidade autoral e um conjunto de reações – talvez mesmo de testes – à sobrevivência da pintura face aos mais diversos modelos e protocolos da expressão visual. Tendo iniciado o seu percurso expositivo em 1981, Pedro Casqueiro integra uma geração de artistas que, de modo assumido e desassombrado, resgatou a pintura do espartilho conceptual em que esta se havia enredado em meados da década anterior. Mergulhando na construção de obras de pendor essencialmente abstrato, o período inicial do seu trabalho foi marcado pela convocação de todos os recursos expressivos para a desconstrução do espaço pictórico. Sobre as ruínas deste exercício revelava-se o substrato de uma interioridade extrovertida, matizada no singular registo tonal que veio a caracterizar toda a sua prática posterior. Libertando-se progressivamente da toada gestualista e matérica dos primeiros anos, as últimas duas décadas e meia assistiram a um paulatino movimento em direção a uma contenção formal e expressiva que viu surgir nas telas de Casqueiro geometrias e espaços estilizados, grelhas e pictogramas, textos e sinaléticas, diagramas e onomatopeias – todo um leque de signos visuais sobre o qual se estabelece um universo pictórico heterogéneo, compósito e, frequentemente, irónico. Na altura em que interrompe uma prolongada ausência dos circuitos institucionais com uma exposição na Culturgest Porto, Pedro Casqueiro traz ao Chiado 8 uma criteriosa seleção de obras realizadas nos últimos dez anos. Nelas se confirma a relevância de um programa pictórico cuja autonomia e valor idiossincrático reservam a este artista um lugar ímpar no panorama da pintura contemporânea. |
06.07
31.08.2012 |
Trabalho
Numa época em que a maioria das imagens e dos objetos vem encapsulada numa retórica que tantas vezes lhe é extrínseca, as obras de Ana Santos (Espinho, 1982) parecem-nos estranhamente mudas. Embora possamos entreter a hipótese de estarmos perante corpos puramente abstratos e de ser essa a razão do seu mutismo, não podemos, todavia, deixar de reconhecer que há neles algo de familiar. Por um lado, esta sensação justifica-se pelo facto de alguns destes corpos terem sido, um dia, produtos plenamente funcionais como guarda-chuvas, arquivadores, dossiês ou hula hoops, agora intervencionados e recombinados pela artista. Por outro lado, e a par dos resultados desta estratégia apropriacionista, o trabalho de Ana Santos integra também um conjunto de obras nascidas por intermédio da transformação direta de materiais como a madeira, o mármore ou o chumbo e cujas formas finais parecem constituir signos de um léxico ainda por determinar mas já carregado de um claro sentido. A adoção descomplexada destas duas estratégias produtivas coloca o trabalho de Ana Santos na fronteira entre as grandes tradições escultóricas da modernidade. Porém, longe de se embrenhar num diálogo com a história deste meio ou com as suas múltiplas ambições, a sua obra ganha singularidade no modo rigoroso como coloca cada um destes objetos nesse ponto de estranha familiaridade capaz de os revestir, a um tempo, de um poder fundador, de um caráter alegórico e de uma função litúrgica. A exposição que agora se apresenta no Chiado 8 trata desse efeito para lá de toda a retórica, dessa mudez produtiva que define um campo de ação e que requer participantes muito mais do que espectadores. Ana Santos é licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes do Porto (2005) e mestre em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias pela Universidade Nova de Lisboa (2010). Em 2004, e no âmbito do programa Erasmus, estudou na Staatliche Akademie der Bildenden Kunste, em Karlsruhe, na Alemanha. Em 2006, frequentou o curso de Artes Visuais do programa Criatividade e Criação Artística da Fundação Calouste Gulbenkian e em 2007 concluiu o Projeto Individual do Ar.Co. Entre setembro de 2010 e fevereiro de 2011 foi artista em residência no International Studio & Curatorial Program, em Nova Iorque. |
20.01
27.04.2012 |
MA – A Dança dos Pirilampos
Fruto de uma muito pontual presença nos circuitos artísticos, o trabalho de Pedro Morais (Lisboa, 1944) permanece, em grande parte, desconhecido do público português. Efectivamente, entre 1982 e a actualidade, a sua obra foi apresentada em pouco mais que uma dezena de ocasiões, algumas das quais em espaços ditos alternativos ou em formatos menos evidentes, como é o caso do livro. Longe de espelhar uma eventual relutância do artista em participar nos referidos circuitos, este facto prende-se sobretudo com uma singular ética produtiva: se, por um lado, Pedro Morais entende que o gesto criativo depende de uma resposta empática ao lugar que o acolhe, por outro, não abdica de salvaguardar essa mesma resposta face aos ritmos, às exigências e aos constrangimentos que pautam habitualmente os processos expositivos. Não é de estranhar, portanto, que as noções de tempo e de acontecimento sejam transversais ao seu trabalho. Dando continuidade a um núcleo recente de obras, o projecto que Pedro Morais traz ao Chiado 8 assume os contornos de uma viagem. Estabelecendo o caminho como parte fundamental e significante deste encontro, o artista propõe como destino as experiências de um corpo instalado no espaço e dos múltiplos estímulos que dele emanam. Entre o que vê e o que ouve, entre o que sente e o que o interpela, poderá o visitante tomar parte na construção de um amplo gesto sinestésico, em cujo lastro talvez se revele, discreta e paradoxalmente, a mais clara expressão da invisibilidade. Entre 1957 e 1967, Pedro Morais frequentou os cursos de Pintura da Escola de Artes Decorativas António Arroio, Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e da École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris, cidade onde residiu até 1977. A partir de 1982 é autor de diversas realizações e projectos, de entre os quais se destacam Deserto III, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (1987); Dokusan II, Boqueirão Praia da Galé, Lisboa (1994); Locus Solus III – Muro Oco de Cal Pintada e Água Corrente e Dokusan III – Lâmina e Anamorfose em Parede Caiada, Museu de Serralves, Porto (2006); Focus Fatus, Avenida 211, Lisboa (2008);MU – Lua em Chão de Terra Batida, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2009); MA – Quadrado em Azul Profundo, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2010). |
28.10
30.12.2011 |
O corredor
A noção de experiência sincrética é particularmente oportuna quando falamos do encontro com o trabalho de Ricardo Jacinto (Lisboa, 1975). Isto porque, longe de se restringir a um campo de produção ou a um medium específico, este artista tem pautado a sua prática pela utilização de todas as ferramentas ao seu dispor para a criação de obras cuja experiência se quer una no seu sentido, porém múltipla nas suas formas, nos seus recursos e nos seus estímulos. Movimentando-se sem restrições no campo da música, da escultura, do vídeo, da performance ou da arquitectura, Ricardo Jacinto tem vindo a desenvolver, desde o final da década de 1990, um corpo de trabalho de base eminentemente projectual, cuja metodologia se pauta por uma abertura significativa à experimentação e à colaboração entre pares. Independentemente das formas que assumem no momento expositivo, as obras deste artista concentram-se frequentemente no estabelecimento de perturbações que, ora subtis ora impositivas, nunca descuram a intensidade somática. Ricardo Jacinto concluiu o curso de Escultura e o curso avançado de Artes Plásticas no Ar.Co e é licenciado em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Foi estudante em intercâmbio na School of Visual Arts em Nova Iorque. Desde 1998, tem apresentado o seu trabalho em exposições, concertos e performances em Portugal e no estrangeiro, de entre os quais se destacam MANIFESTA 7, Trentino, Itália (2008); Lisboscópio (em co-autoria com o arquitecto Pancho Guedes), Representação Oficial Portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza (2006); EARWORM, Culturgest (2008). |
22.07
14.10.2011 |
marcações e territórios
Tendo iniciado o seu percurso expositivo em meados da década de 1980, José Pedro Croft (Porto, 1957) tem desenvolvido, nos últimos vinte e cinco anos, um universo autoral ímpar no contexto da escultura contemporânea. Entendida como um vocabulário, mais do que como uma tecnologia, a escultura é, para este artista, não só um campo operativo com uma dada tradição e um conjunto de funções históricas, como também um campo de absoluta vitalidade e um lugar particularmente apropriado para testar, reformular ou destabilizar os protocolos que vão gerindo a nossa experiência do mundo material. Não é estranho, portanto, que uma parte significativa da produção de José Pedro Croft se tenha articulado num eixo de interesses que contempla, por um lado, as noções de monumento, de presença solene ou de corpo simbólico, e, por outro, os objectos e materiais do quotidiano, a sua carga vernacular e o seu estatuto concreto. Com o conjunto de obras que agora apresenta no Chiado 8, o artista prolonga uma vertente da sua prática na qual a combinação de estruturas de cariz industrial com superfícies reflectoras faz deflagrar particulares disrupções perceptivas. Através destas, somos impelidos a reavaliar a forma como nos habituámos a pensar e a viver o espaço, as relações que nele se estabelecem e as representações que dele fazemos, mas também o modo como com ele interagimos e o que do próprio corpo se revela nessa parti cular interacção. José Pedro Croft frequentou o curso de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. De entre as suas exposições recentes, destacam-se as individuais José Pedro Croft, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil (2009), José Pedro Croft – Escultura e Gravura, Pavilhão Centro de Portugal, Coimbra (2008), e Paisagem Interior, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2007). |
06.05
08.07.2011 |
Uma história de amor
O trabalho que Bruno Pacheco (Lisboa, 1974) tem vindo a desenvolver, desde meados da década de1990, caracteriza-se pelo modo singular como responde aos desafios que a ubiquidade e a ultramediatização da imagem colocam à pintura contemporânea. Embora contemple também significativas explorações nas áreas do vídeo e da produção de objectos, a sua obra centra-se sobretudo no âmbito da prática pictórica, recorrendo frequentemente à fotografia como ponto de partida. Produzidas pelo próprio ou resgatadas dos mais variados meios e suportes – sejam eles jornais, revistas, materiais publicitários ou a Internet –, as imagens que servem de base às pinturas de Bruno Pacheco constituem um álbum em permanente desenvolvimento, cuja orgânica interna é análoga à de uma colecção informal. Sujeitas a critérios de selecção orientados por parâmetros de relevância iconográfica, potencial associativo e pregnância visual, estas imagens passam depois por um aturado processo de alteração das suas características formais – enquadramento, luz, cor, acuidade –, diluindo a sua relação umbilical com o referente fotográfico a favor da opacidade de toda a construção pictórica. O que deste exercício subsiste e se prolonga é a afirmação de uma particular forma de entender e, mais importante, de dar a ver a pintura. Bruno Pacheco estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, tendo posteriormente continuado a sua formação artística no Goldsmith College em Londres, onde concluiu os graus de Bacharelato (1996-1999) e Mestrado (2003-2005) em Belas-Artes. De entre as suas exposições recentes, destacam-se as individuais All Together, Culturgest (2007), e Three Orange Trees, a Box and Some Gloves, Hollybush Gardens, Londres (2010). Em 2004 foi o vencedor da oitava edição do Prémio de Artes Plásticas União Latina. |
21.01
11.03.2011 |
Três degraus, uma laje
O trabalho que Armanda Duarte (Praia do Ribatejo, 1961) tem vindo a desenvolver desde meados da década de 1980 resulta de uma atenção que se divide por dois pólos de interesse radicalmente distintos. Por um lado, muitas das suas peças tomam como ponto de partida os mais discretos gestos do quotidiano, sinalizando as redes de cumplicidade e de troca que sustentam a nossa vida em comunidade. Por outro, a sua prática tem encontrado nos actos de medir, inventariar e categorizar, os instrumentos dilectos de uma observação paracientífica dos objectos que nos rodeiam. Da tensão gerada pelo encontro entre o rigor dos modelos científicos e o carácter afectivo das relações humanas, surgem esculturas, instalações e desenhos em cujas sobriedade e subtileza se esconde um intenso labor, ancorado num profundo respeito pela essência dos materiais e orientado por uma concepção intimista da experiência artística. Ao longo de toda a sua actividade, Armanda Duarte tem atribuído um papel determinante à especificidade do lugar que acolhe as suas peças. Partindo de um estudo pormenorizado das características arquitectónicas do Chiado 8, o projecto que a artista agora apresenta tem na volumetria e no revestimento das salas de exposição a matéria de base para um conjunto de peças alicerçadas nas noções de equilíbrio, modulação, repetição e performatividade. Formada pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, Armanda Duarte foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian nos anos de 1996 e 2006, e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento em 2001. De entre as suas exposições recentes, destaque para a indi vidual Uma Combinação (2), La BF15, Lyon (2009) e para as colectivas A Luz, por Dentro, Quinta da Fonte da Pipa, Loulé (2009) e Jardim Aberto, Escultura nos Jardins do Palácio de Belém, Palácio de Belém, Lisboa (2007). |
01.10
23.12.2010 |
Donnerstag e outros desenhos
Desde o início do seu percurso expositivo, em meados da década de 1980, o trabalho de Jorge Queiroz (Lisboa, 1966) tem-se centrado essencialmente na produção de desenhos. Embora a sua prática contemple incursões pontuais pela pintura ou pelo vídeo, o desenho tem-se assumido como meio privilegiado para a construção de um universo onde figuras, espaços, paisagens ou arquitecturas se conjugam com uma miríade de sinais, marcas ou manchas, desvelando um imaginário singular e em grande medida auto-referente. Recorrendo a meios de registo tão variados como a grafite, o lápis de cor, o pastel de óleo, o acrílico ou o guache, as obras deste artista são compostas por uma profusão de elementos figurativos e abstractos que se justapõem, fundem ou metamorfoseiam, e que, através de processos análogos à livre associação, constituem exuberantes ficções alheias a qualquer narrativa ou guião. Constituída por obras realizadas nos últimos três anos, a exposição que Jorge Queiroz apresenta no Chiado 8 permite acompanhar os desenvolvimentos recentes do seu trabalho e revisitar a vitalidade de um programa artístico assente em estratégias de suspensão, no perpétuo embargo à estabilidade e na capacidade de promover tensões entre a ficção do real e a expressão do fantástico. Jorge Queiroz foi aluno no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, entre 1990 e 1993, e realizou um mestrado na School of Visual Arts de Nova Iorque, no biénio 1997-1999. Vivendo em Berlim desde 2004, o seu trabalho conhece actualmente uma muito significativa circulação em galerias, instituições e certames internacionais, de entre os quais se destacam as suas participações nas bienais de Veneza, São Paulo e Berlim, em 2003, 2004 e 2006, respectivamente. |
12.07
17.09.2010 |
Pavlina
e o Dr. Erlenmeyer
O trabalho de João Penalva (Lisboa, 1949)
parte frequentemente de um dado, de um acontecimento ou de um referente
concreto para desenvolver uma multiplicidade de objectos e dispositivos
cujas relações sinérgicas enformam sofisticadas narrativas. A metodologia
habitualmente utilizada pelo artista determina que, uma vez identificado
o referente, este é sujeito a um meticuloso processo de investigação
através do qual se recolhem documentos, memórias, relatos, histórias
e outros materiais que delimitam um amplo universo informal, no
interior do qual João Penalva intervém estabelecendo nexos, provocando
desdobramentos e introduzindo novos elementos. Deste exercício resultam
elaboradas instalações onde instâncias dos mais diversos meios interagem
e se contaminam, estabelecendo um território ambíguo entre a ficção
e a realidade, e em cujos estímulos e desafios se alicerça a experiência
eminentemente subjectiva do espectador.
|
19.04
25.06.2010 |
Ich bin ein Baixinher | 29.01 26.03.2010 |
|
Na
última década e meia, a obra de Fernando Brito (Pampilhosa
da Serra, 1957) tem estado, em grande medida, ausente dos circuitos
expositivos nacionais. Em virtude de uma auto-imposta reclusão,
o artista interrompeu um percurso público que o vinha estabelecendo
como uma das referências artísticas da sua geração,
optando por remeter-se essencialmente ao trabalho em atelier
e dedicar-se à investigação e ao estudo de
autores canónicos da teoria da arte moderna.
|
Sem título (barco de papel), 2010 Publicação (pdf) |
The Great Curve | 09.10 31.12.2009 |
|
Explorando campos
de interesse tão variados como o cinema, a cultura urbana,
a ficção científica, o deejaying ou
o veejaying, e adoptando meios tão diversos como
a pintura, a escultura, o vídeo, o desenho ou o som, a prática
artística de Rui Toscano (Lisboa, 1970) tem-se destacado
pela forma peculiar como sobrevive à voragem pós-moderna
e aos seus potenciais equívocos. |
The Right Stuff, 2008-09 (pormenor) Publicação(pdf) |
To Be Abstract | 24.07 25.09.2009 |
|
A pintura de Sónia
Almeida (Lisboa, 1978) situa-se no limiar da figuração
e da abstracção. Pode dizer-se que a sua obra incorpora
e procura transformar as premissas que marcaram a história
da pintura abstracta, sem nunca se deixar imergir completamente
nesta categoria. |
Publicação (pdf) |
Pinocchio | 22.05 10.07.2009 |
|
Nas últimas três décadas, Jorge Molder (Lisboa, 1947) tem vindo a desenvolver uma profunda e sistemática exploração da imagem fotográfica enquanto modelo e veículo para a auto-representação. Tendo o próprio corpo como matéria primordial, as suas fotografias confluem no estabelecimento de um universo ficcional, onde impera a figura do duplo, no qual o artista encarna personagens que resistem a dissolver-se numa eventual narrativa. O sentido destas obras, concebidas para serem apresentadas em séries, está subordinado às relações internas que estabelecem entre si e cujos nexos dependem tanto das noções de repetição e semelhança quanto das noções de distância e intervalo. Jogando com uma enorme economia de meios (são na sua maioria imagens a preto e branco, onde o que é representado é imediatamente identificável), as fotografias de Jorge Molder instituem um singular universo artístico que, todavia, não deixa de se inscrever num contexto repleto de referências provenientes das artes visuais, do cinema e da literatura, e ao qual não são estranhas as temáticas da deriva, da queda, da morte ou do desejo. Intitulada Pinocchio, a série inédita que agora se apresenta no Chiado 8 recupera e aprofunda algumas das temá ticas e dos processos basilares na obra de Jorge Molder. Composta por imagens que se reportam ao processo de construção de uma cópia fiel do corpo do artista, esta exposição traz-nos momentos distintos dessa perturbadora revelação da sua aparência na superfície inerte de uma escultura, na expressão definitiva de uma máscara, no corpo especular do simulacro. |
Publicação (pdf) |